Neste artigo abordo um excelente exemplo de como conciliar os objetivos de aumento gradual da despesa com defesa – face aos novos compromissos no âmbito da NATO e da União Europeia (UE) –, potenciar o crescimento da economia e as receitas fiscais nesse processo, evitando que esse esforço se faça à custa do Estado social, e reforçar, ao mesmo tempo, a coesão territorial.

Portugal precisa de contrariar a desertificação do interior com projetos de investimento estruturante. A indústria é um desses setores e, dentro dela, a ligada à área da Defesa, que tem uma incorporação tecnológica e um potencial de arrastamento significativos, sobretudo no caso do duplo uso civil e militar.

A constituição do grupo de trabalho “Declaração de Viseu pela Indústria da Defesa” – durante a recente conferência Viseu Defense Tech 2025 –, visando tornar Viseu um polo estratégico da indústria da Defesa, parece conciliar os vários objetivos referidos de forma virtuosa.

Com o apoio da Câmara Municipal e a colaboração do Exército, da idD Portugal Defence (que gere as participações do Estado na área da Defesa) e das instituições de ensino superior da região, Viseu poderá tornar-se um centro de desenvolvimento, formação e produção tecnológica ligada à Defesa.

Trata-se de um investimento que, além de promover emprego qualificado, retém talento jovem e mobiliza setores já instalados que estão ligados às indústrias de defesa, como metalomecânica de precisão, tecnologia de drones e sistemas autónomos, têxteis técnicos, eletrónica aplicada, comunicações seguras, armazenamento e energia, biotecnologia de aplicação militar, e engenharia de software.

O impacto económico regional poderá ser significativo, quer através do fornecimento ao Estado português, quer por via da exportação para outros países da UE e da NATO, também eles empenhados em cumprir as metas mais exigentes até 2035: 3,5% do PIB em Defesa tradicional e 1,5% em investimentos associados, com âmbito abrangente e mais fáceis de cumprir.

Portugal deve, assim, aproveitar as oportunidades da política europeia de Defesa — incluindo futuros fundos da UE nesta área — para promover o desenvolvimento regional e nacional. Projetos como o de Viseu podem servir de modelo para outras regiões do interior com condições semelhantes.

A Defesa nacional é um bem público essencial. Podemos e devemos investir nela com responsabilidade, privilegiando projetos com elevado retorno económico e social — sobretudo no interior, onde cada euro público pode marcar a diferença entre declínio e revitalização.

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