A redução da natalidade, o aumento da esperança de vida e outras transformações sociais têm vindo a reduzir a dimensão média do número de habitantes por alojamento.
O fenómeno terá, pelo menos, 50 anos, e aquele valor para Lisboa acompanhou o resto do país, de cerca de 3,3 moradores por fogo, em 1970 (data do I Censo de Habitação), para cerca de 1,7 em 2021. Se o número e área das habitações se mantivesse exactamente o mesmo, isso implicaria uma redução para cerca de metade da capacidade de alojamento na capital.
Na verdade, o número de alojamentos na capital subiu em todas as décadas, entre 1970 e 2011. Em 1970, havia 229 mil fogos, que subiram para 281 mil (+42 mil) em 1981, permitindo atingir o número máximo de habitantes da capital (808 mil). Nos vinte anos seguintes, o aumento de fogos foi baixíssimo, 7 mil na primeira década e 10 mil na segunda, de que resultou a catastrófica queda da população de que já aqui falámos, para apenas 565 mil.
Entre 2001 e 2011, houve um esforço mais significativo no aumento de habitações (37 mil), mesmo assim inferior ao máximo dos anos 70 e insuficiente para impedir uma nova diminuição do número de moradores em Lisboa, mas desta feita de forma limitada, para 553 mil.
Em relação à década seguinte, há um primeiro facto a salientar: a diminuição do número médio de pessoas por fogo parou e até se inverteu muito ligeiramente. Até então, era necessário aumentar o número de habitações apenas para manter a população, mas esta necessidade cessou. Ou seja, seria muito mais fácil conseguir que o aumento de novos fogos se traduzisse em novos moradores.
O que aconteceu? Pois bem, o número de alojamentos caiu em 5,7 mil unidades, tendo a população também caído. Se em vez daquela queda tivéssemos tido o mesmo aumento da década anterior, teríamos hoje mais 43 mil habitações (+13% do que a actuais), Lisboa poderia ter recuperado cerca de 73 mil habitantes, os preços da habitação e das rendas seriam hoje muito mais acessíveis.
Mas sublinhe-se que o aumento de fogos entre 2001 e 2011 nem sequer pode ser considerado como uma referência, porque foi manifestamente insuficiente para impedir uma nova perda de habitantes.
Em relação à margem para aumentar o número de habitações nesta cidade, refiro apenas as zonas ainda não urbanizadas, sobretudo na parte oriental, o número excepcionalmente elevado de prédios em ruínas, mesmo nas zonas mais nobres, e refiro um dos casos mais bizarros.
A zona da Praça de Espanha teve o privilégio de ter metro, desde o início, em 1959, ainda antes de este chegar ao Rossio (1963), Anjos (1966) e Alvalade (1972). Ganhou a sede da Gulbenkian, inaugurada em 1969, chegou a ser pensada como centro financeiro e, ainda hoje, tem uma urbanização incompleta. Os proprietários dos terrenos certamente que os terão pretendido urbanizar, mas houve um evidente défice de autorizações de construção.
A análise, incluindo também a área metropolitana, e propostas de solução seguem na próxima semana.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.