A humanidade divide-se em duas categorias: aqueles que se levantam tarde e aqueles que se levantam cedo. – Achille Campanile
Escrevo estas palavras enquanto os restantes membros da minha casa estão num estádio de futebol. É Domingo e são 20h38! Não tenho nada contra os jogos de futebol e a assistência entusiástica dos adeptos, o que não consigo compreender é porque é que a sociedade portuguesa teima em insistir em horários tão noturnos….
O tema das atividades programadas em horários “extraordinários” é que afetam o nosso sono, não apenas a nível individual, mas enquanto sociedade. O sono é uma atividade interdisciplinar pois influencia todos os aspetos da saúde. A quantidade e qualidade do nosso sono impacta o funcionamento físico, mental, torna o sistema imunitário mais robusto, o nosso metabolismo mais eficiente e melhora a nossa capacidade de inibir determinadas doenças crónicas.
Em média, passaremos um terço da nossa vida a dormir. A Oura Health, empresa tecnológica que vende um anel com capacidade de monitorização de várias variáveis biológicas entre as quais os nossos hábitos de sono, analisou 220 mil pessoas em 35 países. De forma geral, os asiáticos dormem menos do que os americanos e europeus. O país que conquistou o pódio com melhor sono foi a Nova Zelândia, enquanto Portugal aparece em 23º lugar com 6,6 horas de sono médio nos dias de semana. Ao fim de semana melhoramos um pouco (muito pouco) conseguindo chegar a 7,1 horas de sono.
Para mim, o mais interessante do estudo não apenas é o tempo passado a dormir, mas as horas a que nos deitamos e acordamos. Neste caso, temos padrões similares aos da Coreia do Sul, Hong Kong, Índia e Japão, que são todos países com estatísticas menos saudáveis de higiene do sono. Em média, um português deita-se por volta da meia-noite e acorda pelas 7h30.
Deitar mais tarde está associado a pior qualidade de sono. Passamos mais tempo a dar voltas na cama! E não conseguimos recuperar ao fim de semana.
Ora, sabendo a importância de uma noite bem dormida para a nossa saúde física e mental, para a nossa capacidade de aprendizagem e qualidade de tomada de decisão, e mesmo para o nosso humor, seria desejável repensar este hábito. Porque teimamos a manter e defender horários tão tardios como se fossem algo desejável e positivo? Porque achamos que deitar tarde é uma característica de força, quando na realidade nos impacta de forma negativa?
Em 2021, os portugueses gastaram 77,43 milhões de euros em medicamentos para dormir, ou 6,45 milhões de euros por mês com “drogas” que nos ajudam a dormir. Não seria mais saudável criar hábitos e horários mais alinhados com as nossas responsabilidades e estilos de vida? Será mesmo necessário agendar jogos de futebol ao domingo pelas 20h30?
Dormir mais cedo diminui pensamentos negativos, sentimentos ansiosos e melhora a nossa capacidade de lidar com emoções. A escola de medicina da Universidade de Northwestern mostrou que pessoas “notívagos” têm 10% mais probabilidade de morte prematura face aos indivíduos que vão dormir mais cedo.
Por este motivo e todos os outros, parece ser oportuno enquanto sociedade repensar horários, a bem da nossa saúde e da nossa relação com a nossa cama! Porque já todos ouvimos dizer que “deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer”.