Não é por não falarmos dos problemas que eles deixam de existir. Temos o mau hábito de ignorar alertas dados atempadamente e depois fingir surpresa. Da minha parte, mesmo que não queiram ouvir ou debater seriamente, continuarei a alertar para a difícil situação económica e orçamental em que Luís Montenegro colocou Portugal.
“Deixem o Luís trabalhar” foi o vazio das ideias da proposta eleitoral da AD, colocada em cartazes espalhados pelo País. Agora o Luís vai mesmo trabalhar – e enfrentar o cabo dos trabalhos, porque conduziu o país a um estado que acende todas as luzes vermelhas, depois de ter recebido um País com contas certas, excedente orçamental e crescimento económico acima da média da UE e da zona euro.
Comecemos pelo crescimento económico: ao fim de um ano de Luís, o PIB caiu no primeiro trimestre de 2025. Fora a pandemia, não se via algo assim desde 2014. O indicador diário do Banco de Portugal mostra claramente o que aí vem: terreno negativo. Mas ninguém parece querer ver. Já a Comissão Europeia lançou um sinal claro de descredibilização: menos de duas semanas após o governo prever 2,4% de crescimento para 2025, Bruxelas apontou para, no máximo, 1,8%.
Com os dados atuais, até isso parece difícil de cumprir. O Investimento Direto Estrangeiro, por exemplo, registou -1,1 mil milhões no início do ano – algo inédito desde a pandemia.
E Luís? Não comenta. Diz apenas que quer trabalhar. Nos últimos meses, gastou centenas de milhões de euros para “resolver problemas”. Mas as contas estão a chegar. Todos os dias surgem novos dados sobre o aumento da despesa permanente, sempre acima das previsões. Foram decisões de uma Comissão Eleitoral, não de um governo responsável.
O resultado? Mais 150.000 votos para a coligação governamental – provavelmente os mais caros de sempre, como o tempo mostrará. Luís iludiu-se ao achar que resolveu problemas; criou um ainda maior. Um problema que se aproxima e já é evidente para os mais atentos. Poucos o querem discutir, mas ele está a chegar.
A Comissão Europeia confirmou os alertas feitos nos últimos meses: haverá défice já em 2026 – a não ser que o Governo suspenda a execução dos fundos do PRR, sacrificando o investimento e o crescimento económico. Este ano o saldo aproxima-se do nulo – veremos. Além disso, Portugal voltou ao pódio dos potenciais incumpridores das regras orçamentais europeias: somos dos países com maior desvio face à nova regra da despesa primária líquida – o indicador-chave de desempenho orçamental na UE.
Se a situação já era preocupante, há que somar agora as novas promessas eleitorais de quem venceu – e que, presume-se, quer cumprir. Acresce ainda o previsível aumento de despesa em Defesa, agora tornado evidente pelo MNE. Não são tempos fáceis. Vamos, então, deixar o Luís trabalhar.