A pandemia está a ter fortes impactos na prática da actividade desportiva, apesar de ser determinante para a saúde e para o desenvolvimento. Adquire até uma dimensão relevante na actual situação epidemiológica, devido aos benefícios que traz para a melhoria do bem-estar físico, psicológico e social da população. Também é importante em termos de inclusão social, pois promove a socialização, a confiança e a autoestima, não se devendo ignorar o seu papel social e a sua função educativa.
No entanto, as respostas dadas até agora para a retoma da actividade desportiva têm ficado aquém das necessidades e até esqueceram o desporto adaptado, o que demonstra algum desconhecimento sobre a realidade desportiva em Portugal e pode pôr em causa o desenvolvimento das crianças e jovens, tendo em conta os graves impactos que a privação da prática de desporto pode representar para a saúde física, mas também mental.
Os últimos dados da PORDATA indicam que, em 2018, havia perto de 440.000 jovens a praticarem desporto federado em Portugal, a quem não está a ser dada a devida atenção, nem respostas concretas e coerentes. Não se consegue entender a dualidade de critérios das orientações da DGS, permitindo a retoma dos escalões seniores, mas proibindo os restantes escalões, em modalidades de médio e alto risco.
A realidade é que esta paralisação dura há nove meses e não tem ainda prazo para terminar, o que traz muita incerteza e pode levar à ansiedade, frustração e revolta, pois os atletas não podem fazer aquilo de que gostam e algumas destas repercussões apenas poderão ser mais bem compreendidas quando a pandemia terminar.
Não podemos ignorar que grande parte dos pequenos e médios clubes, associações desportivas e colectividades dependem muito dos escalões de formação, podendo correr agora o risco de fechar portas, levando à perda de trabalhadores, treinadores, formadores, entre outros. Podemos, por isso, dizer que está em causa a viabilidade dos clubes e associações, mas também da própria actividade desportiva, lesando milhares de pessoas, especialmente os jovens.
De resto, foi criado um grupo de trabalho para analisar os planos de adaptação das modalidades desportivas em conformidade com as medidas de prevenção da Covid-19, mas, até ao momento, não são publicamente conhecidas as suas conclusões.
Obviamente, ninguém quer que se descure a aplicação rigorosa das medidas de prevenção da doença, na fase de preparação, durante e após a realização das actividades desportivas, nem os riscos associados às diferentes modalidades, mas as crianças e os jovens precisam de retomar a prática desportiva e as competições.
Não se pode adiar mais. Há um esforço conjunto que tem de ser feito para conciliar a parte desportiva que, como já vimos, é muito mais do que desporto, com a garantia de protecção da saúde pública, minimizando o risco de propagação de Covid-19, com o objectivo de, dentro do possível e em contexto de pandemia, evitar consequências negativas mais duradouras para os atletas.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.