A 1 de fevereiro será a primeira reunião do ano do Federal Open Market Committee da Reserva Federal americana (Fed), um momento especial embora não necessariamente esclarecedor da política monetária dos EUA – que tem dado o mote à política monetária internacional. O que vai acontecer não deverá trazer surpresas; é a interpretação do que for dito e das minutas da reunião que vai ser interessante, ao jeito do Oráculo de Delfos. E isto porque Fed e mercado estão, pela primeira vez nos tempos recentes, em clara dessintonia.
Tudo gravita à volta da inflação, cujos relatórios mensais são hoje o texto mais lido depois da Bíblia. A Fed levantará o pé quando tiver sinais de que ela irá estar abaixo dos 2%. Ora, em dezembro a taxa de inflação caiu dos 7,1% de novembro para 6,5%. Foi o sexto mês consecutivo de queda, depois do pico de 9,1% em junho do ano passado e a taxa mais baixa desde outubro de 2021. A inflação “core” ou subjacente, que exclui os preços de energia e produtos alimentares, mais voláteis, caiu também, para 5,7%. E dois outros elementos são dignos de registo: a inflação do último trimestre anualizada foi 3,1% e os preços em dezembro caíram 0,1%, a primeira queda desde maio de 2020.
Muitos agentes do mercado tomam a inflação por controlada e veem a Fed a reduzir as taxas de juro ainda este ano. Com efeito, os títulos do Tesouro a um ano estão a render 4,7%, enquanto os títulos indexados à inflação para a mesma maturidade pagam 2,7% – ou seja, num ano a inflação estará nos 2%. Com os contratos de futuros fazem-se contas semelhantes.
Porém, a vida não é tão simples. O mercado é otimista nestes momentos, uma queda desta rapidez é rara e dá-se com uma recessão – aconteceu em 2008-2009, antes disso, é preciso recuar aos anos 80.
A Fed tem adotado uma atitude cautelosa, mantendo que as taxas deverão subir até aos 5% antes de descer, talvez no próximo ano. A inflação deveu-se, certo, a fatores extraordinários, como à guerra na Ucrânia e suas consequências nos mercados energéticos e à pandemia e o lockdown, que alteraram padrões de consumo, em detrimento dos serviços face aos bens, com custos importantes de ajustamento da produção e de disrupção de cadeias produtivas e de distribuição.
Mas estes problemas estão, em boa parte, ultrapassados. Agora são os serviços que estão por trás da dinâmica dos preços (cresceram 7% em dezembro), ligados às expectativas e a um desemprego em mínimos de meio século. Se a desinflação levar tempo, a expectativa de inflação pode criar inflação. Daí que o remédio não pode deixar de ser tomado antes da cura estar completa.
Dois fatores jogam no sentido do abrandamento: as expectativas de inflação a prazo são no sentido de cair abaixo dos 2% e taxas de sindicalização mais baixas fazem admitir mais moderação dos salários, que em dezembro aumentaram 4,6%, ligeiramente menos que no mês anterior. Mas estamos num compasso de espera. A 1 de fevereiro o oráculo vai falar, mas só uma sacerdotisa conseguirá compreender.