O papel da comunicação social tem sido questionado em muitas ocasiões pondo-se em causa a sua independência, particularmente, quando se suscita uma tendência de proximidade ao poder dominante, qualquer que ele seja.
Este tema é recorrentemente discutido por vezes sem a perspetiva global da função que desempenham os jornais, televisões ou as rádios na denúncia de situações que de outro modo ficariam escondidas dentro de gabinetes de procuradores ou em salas de tribunais.
Nem sempre concordamos com o que lemos, vimos ou ouvimos. Muitas vezes aliás discordamos da respetiva orientação editorial. Principalmente, quando se lida com situações em que temos uma posição forte e claramente definida. É lógico que tal aconteça, sentindo que as nossas posições nunca são claramente expressas.
Mas não fora a função de denúncia que os órgãos de comunicação social desenvolvem e a democracia ficaria mais pobre ou desapareceria. Claro que há abusos e evidente se mostra, que alguns se excedem por querer encontrar um “furo”, dar uma “caixa” ou criar um facto que tantas vezes não se confirma. E todos temos a consciência de que qualquer desmentido nunca tem a dimensão da notícia nem tem o impacto da pretensa denúncia ou divulgação.
No tempo em que cresce e se diversifica o acesso à informação e que de forma básica se toma como factual uma mera declaração, sem confirmação de factos ou verificação de fontes, os perigos dos desvios da comunicação aumentam. Como se alimenta a desinformação com notícias falsas ou se acusa quem divulga uma informação verdadeira como não o sendo, o que provoca uma evidente confusão no recetor.
A proximidade ao poder é um problema acrescido. Geralmente deriva da iniciativa de quem detém o poder, embora na generalidade dos casos não se recorra ao contraditório e como tal aparece apenas a posição de quem divulga e não de quem julga.
Mas a comunicação surge como uma das pedras chaves de quem tem uma mensagem que pretende fazer chegar a um auditório mais vasto. E quem não está no poder precisa de se esforçar em dobro, com acrescida qualidade e atenção para apelar ao interesse e à imparcialidade dos que divulgam a informação. Neste quadro a mensagem tem de resultar clara, firme e simples, donde não tenha de se revestir de grandes argumentos no primeiro impacto.
As novas formas de comunicação devem ser adequadamente utilizadas, estrategicamente pensadas, sem esperar que alguém faça favores. O mérito da mensagem que chega ao destinatário é que ela possa ser inquestionável do ponto de vista da verdade, mas que se discorde da perspetiva. A noticia não deixa de ser verdadeira apenas porque queremos que o seja.
Independentemente de tendências e proximidades, em democracia existirão sempre órgãos de comunicação social que denunciam o poder em qualquer das suas dimensões, que usarão a informação para se contrapor ao poder dominante e que pelo uso adequado se saberá quais os comportamentos que estão a merecer a pressão pública não deixando cair em saco roto os casos que merecem a nossa atenção, a nossa condenação e o nosso repúdio. O mal estará nas generalizações e no radicalismo. Porque se um jornal não deve promover o poder, também não pode servir a oposição.
Mas sem comunicação social livre não haveria democracia e mesmo que ela cometa erros e exageros, precisamos de contar com ela para conhecer melhor o mundo à nossa volta e para evitar regressar a um mundo onde a liberdade seja limitada.