Etimologicamente, é conhecido o significado do vocábulo. Dêmos + kratía (povo + poder do). A junção destes dois termos gregos deu a palavra tão usada, democracia. Esta forma de governo surgiu na Grécia antiga c. século VI a.C. em várias cidades-estado aquando da sua formação, sendo a mais famosa, Atenas, na Ática.

Votavam apenas os homens atenienses de mais de 30 anos, excluindo-se estrangeiros, mulheres e jovens. Quando se diz em tantos países do mundo ocidental que a democracia tem o seu berço na Grécia não se explica normalmente que o que se quer dizer é que se fala apenas e só do direito de voto seja ele restrito.

Em Atenas, nos séculos V e IV a.C., fizeram-se críticas ferozes ao sistema político em vigor. Platão e o seu discípulo Aristóteles criticaram-no pelo facto de Sócrates, o “melhor dos homens”, ter sido condenado à morte por este sistema, em nome de uma maioria ignorante.

Já Winston Churchill afirmou em 1947: “Ninguém tem a veleidade de dizer que a democracia é perfeita ou infinitamente sábia. Aliás, disse-se que a democracia é a pior forma de Governação a não ser pelas outras formas que foram experimentadas de tempos a tempos…”. Churchill era um aristocrata, tal como Platão. O primeiro foi um político de êxito, o segundo, um filósofo desastrado na política. Ambos foram treinados na arte de falar.

Creio que ninguém pede a perfeição no governo dos estados, uma vez que não há homens perfeitos, mas olhar à nossa volta e reduzir um sistema, na actualidade, a um tal que limita o voto a bege ou a creme e, mais recentemente, também a manipulação por gritos, como já foi nos anos 20 e 30? A Antiguidade terá sido o Mestre nos truques oratórios tão bem aprendidos nas Public Schools aonde vão aristocratas britânicos e ricos. Democracia deste modo? Sir Winston?!

Curiosamente, em Esparta, cidade militarizada por excelência, oligarca e não democrática, as mulheres tinham bastante poder económico e social. Os homens pereciam na guerra e as mulheres substituíam-nos na cidade, enquanto na democrática Atenas estavam relegadas para o gineceu com as suas vestes mais próximas das mulheres do Norte de África e dos outros locais do Mundo. As espartanas usavam fatos abertos de lado (uma racha), como agora, ou saias muito curtas nos jogos desportivos em que também eram concorrentes. A abertura das saias devia-se, pensa-se, ao facto de facilitar os movimentos, não por uma questão de aliciamento sexual. As questões de sexo estavam bem definidas pelo Estado.

Platão, que, como já vimos, desdenhava o modelo de governação ateniense, a democracia dos ignorantes, como ele lhe chamava, admirava as mulheres espartanas, pois podia ter conversas filosóficas com elas. As mulheres atenienses estavam no gineceu, como dissemos, a cozinhar ou a dar ordens às escravas se as tivessem. Se quisermos puxar a corda bem, o gineceu ou pistilo era um género atenuado de harém.

Então, a democracia na Antiguidade teria sido baseada num grupo de homens livres que, cultos ou ignorantes, dariam o seu voto em matérias segundo o que ouviam dos oradores ou segundo a sua casmurrice. Hoje-em-dia parece ser uma forma de governo com as vantagens de um sapato não apertado no pé com uma palmilha, que transmite ordens de superiores para o cérebro, enquanto a ditadura transmitiria ordens directas violentas sem a palmilha, o que duvido que se faça ainda.

A persuasão comanda em todas as formas governamentais, onde há eleições aparentemente livres (cérebro comandado) ou não (o “é assim mesmo!”).

Assistimos agora ao verdadeiro levantar do pano para vermos no palco a democracia actual. Com base, por exemplo, na divisão da Palestina para se criar o Estado de Israel em 14/V/1948, o Reino Unido, com o apoio dos países ocidentais, permitiu que se gerasse uma das maiores catástrofes da História, formalizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que, meses depois, celebra-se hoje, dia em que escrevo, 10 de dezembro, o 75º ano da assinatura Declaração Universal dos Direitos Humanos, uma magnífica carta que contraria tudo o que Israel tem feito desde a sua independência, concretizada pela ONU a pedido de grandes potências e com o apoio da opinião pública depois do holocausto (o 1º?).

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.