Partido democrata tenta pontuar a um ano das eleições intercalares; Trump deixa ameaças. Ouro atingiu novo recorde com investidores a procurarem refúgio, mas Wall Street permanece serena. Dados económicos relevantes para o banco central ficam suspensos, podendo colocar em causa decisão de outubro.
É o 20º ‘shutdown’ do Governo norte-americano nos últimos 50 anos e o terceiro de Donald Trump (que detém o recorde de 35 dias com o Governo congelado entre 2018/2019).
O apagão financeiro acontece porque o Congresso não chega a acordo sobre libertar fundos para o Governo federal. Tem sido usado como arma política nas últimas décadas, com a oposição a encurralar a Casa Branca, obrigando-a ceder em certas matérias.
Neste momento, há o risco de suspensão de 750 mil trabalhadores federais, com um custo diário de 400 milhões de dólares (a ser pago posteriormente), a par do congelamento de salários de soldados, paragem do funcionamento de agências federais, e a interrupção da divulgação de dados importantes, como o relatório de emprego que é vigiado de perto por analistas para perceber o estado da economia. Outros impactos são a suspensão de investigação científica ou atrasos nas viagens aéreas.
O que está em causa neste momento? Os democratas estão a lutar por manter inalterados subsídios no setor da saúde, cuja validade expira no final deste ano, querendo também torná-los permanentes.
O partido democrata encontra-se sob grande pressão dos apoiantes neste momento, que estão “frustrados” com o avançar sem piedade da agenda MAGA (Make America Great Again) de Donald Trump.
A oposição tenta assim alcançar uma vitória antes das eleições intercalares de 2026 que vão determinar quem vai controlar o Congresso nos dois anos finais do mandato de Donald Trump.
Se o apagão durar três semanas, a taxa de desemprego pode disparar para 4,6-4,7%, a partir dos 4,3% registados em agosto, segundo uma previsão da “Bloomberg”.
A divulgação de dados oficiais talvez não seja a questão mais importante neste apagão governamental, mas o facto é que os dados estatísticos são relevantes para a tomada de decisões por parte da Reserva Federal.
“Se não têm os dados de que precisam para tomar boas decisões, os riscos de cometer erros são maiores”, com os EUA a poder ficar com “desemprego mais elevado ou uma inflação mais rápida”, alertou Ben Casselman, editor do “New York Times” sobre a falta de dados para análise do banco central que volta a reunir-se a 29 de outubro.
O que fica aberto? Tribunais federais, controlo de passaportes, tráfego aéreo, segurança aeroportuária, caminhos de ferro, serviços postais. Quais os serviços mais impactados? Dados estatísticos, centros de visitantes em parques e monumentos. O que sofre algum impacto? investigação médica, parques nacionais, monumentos e museus.
No apagão anterior, as filas em bancos alimentares aumentaram, com trabalhadores federais a recorrerem a ajuda social, perante a falta de pagamento.
Os republicanos do Senado precisam do voto de oito democratas para conseguir aprovar financiamento para o Governo.
“Estão a tentar intimidar-nos e não vão ter sucesso”, disse o líder democrata do Senado Chuck Schumer, citado pela “Reuters”.
Donald Trump que tinha prometido despedir 300 mil trabalhadores federais até ao final deste ano, já avisou que o caminho dos democratas pode levar a ações “irreversíveis” como o corte de mais empregos públicos e de mais programas governamentais.
O último ‘shutdown’, durante o primeiro mandato de Donald Trump, teve um impacto económico negativo de 11 mil milhões de dólares. Regra geral, a economia consegue recuperar depois o impacto negativo, mas no último não foi isso que aconteceu: dos 11 mil milhões de dólares perdidos inicialmente, 3 mil milhões nunca foram recuperados, segundo dados do Congressional Budget Office, citados pela “Bloomberg”.
Para já, os mercados permanecem serenos. Wall Street permanecia calmo na tarde de quarta-feira, negociando ligeiramente em terreno negativo. Uma explicação é que os investidores estão habituados aos apagões do governo americano, sendo de esperar maior nervosismo ao longo que os dias passam.
O ouro atingiu um novo recorde na quarta-feira com os investidores a procurar o ativo refúgio perante a instabilidade política nos EUA. O ouro já subiu quase 50% este ano, a caminho do maior ganho anual desde 1979, perante compras de bancos centrais e com a Fed a reiniciar cortes. A suspensão das operações federais arrisca a colocar mais pressão sobre o dólar.
O professor Robert Pape aponta que a crescente radicalização de ambos os partidos está a tornar difícil chegar a acordo desta vez.
“As regras da política estão a mudar e não sabemos como isto tudo vai acabar. Cada lado tem de recuar contra a vontade de milhões de apoiantes radicais, o que torna tudo muito difícil”, segundo o professor da Universidade de Chicago disse à “Reuters”.