Para o secretário de Estado do Planeamento, José Mendes, há três tendências que vão marcar a próxima tendência. “São três mega-tendências que vão condicionar as opções para a próxima década e para as quais deve haver resposta”, disse o secretário de Estado, esta quinta-feira, durante o seu discurso que abriu a conferência do Portugal Financial Forum, “2020 – O início da década da disrupção: desafios e oportunidades da economia nos próximos dez anos”, que se realizou no no campus da Nova SBE em Carcavelos, e da qual o Jornal Económico é media partner.
José Mendes começou por identificar a demografia, “que tem associada a desigualdade”. “Mais mil milhões de pessoas vão aparecer na próxima década, dos quais 300 milhões vêm do segmento acima dos 65 anos”, referiu o secretário de Estado.
A consequência desta situação é a desigualdade, “porque não há sistema económico capaz de absorver em tempo útil o acréscimo demográfico em tão pouco tempo”, explicou José Gomes. “Isto gera migrações e gera desigualdade. As 85 pessoas mais ricas do mundo têm a mesma riqueza do que os 3,5 mil milhões de pessoas mais pobres”, vincou o secretário de Estado.
Associado ao tema das migrações, estão outros fenómenos que se aproveitam dos fluxos migratórios, como o terrorismo. E, segundo José Mendes, estes riscos associados não permitem que “o sistema não possa fluir”.
Uma das respostas passa por dar “espaço à economia e inovação social”, do qual o programa Portugal Inovação Social constitui um exemplo. “É um laboratório de ensaio para as políticas que temos de fazer para frente”, disse o secretário de Estado.
Outra é resposta, de cariz internacional, é a possibilidade de serem aprovados protocolos “para gerir os fluxos migratórios”, realçou José Gomes.
A segunda grande tendência prende-se com o digital, “que vai invadir o físico”, revelou José Gomes. “90% dos dados que existem no mundo foram criados nos últimos 2 anos e menos de 1% são tratados”.
Segundo o secretário de Estado do Planeamento, vão acontecer duas coisas com esta invasão. Ao nível do serviço, “vão generalizar-se os modelos que fazem matching entre a procura e a oferta em tempo real, como o modelo Uber”, explicou José Mendes. “É a ‘uberização’ dos serviços”.
E, ao nível do produto, o secretário de Estado referiu que vamos deixar de sentir de comprar um novo produto físico, mas sim vamos passar a utilizar o digital para o melhorar. Por exemplo, no futuro, quando um consumidor precisar de melhorar os serviços de um automóvel, não terá de comprar um carro novo. Em alternativa, fará “o download do software” e terá “um carro novo sem ter de comprar um carro novo”, explicou José Gomes.
“O digital vai entrar em todas as estruturas físicas, vai entrar na educação, nas infraestruturas”, realçou o secretário de Estado do Planeamento, o que terá um grande impacto na economia.
A terceira tendência identificada consistiu nas alterações climáticas. “Desde o ano 2000 temos batidos recordes nas temperaturas, cada vez mais altas, e nos fenómenos atmosféricos cada vez mais frequentes. O clima está descontrolado”, frisou José Mendes.
Uma das respostas em cima da mesa para fazer face aos impactos económicos e ambientais por efeito das alterações climáticas prende-se com taxação carbónica transfronteiriça que, no entanto, encerra um problema.
“Se começarmos a carregar muitos em impostos ambientais, a produção é deslocada. Os produtos podem ser produzidos em geografias onde têm uma intensidade carbónica em geografias muito superior àquelas que teriam na Europa. Por isso, pode fazer-se taxação transfronteiriça. É fundamental, mas é difícil porque altera as regras de jogo comerciais entre os Estados. Quando se cria uma taxa destas, há retaliação. Isto pode abrir guerras comerciais e, no fim do dia, o que era uma boa ideia, pode acabar numa guerra comercial”, concluiu o secretário de Estado do Planeamento.
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