A última semana marca um epílogo de volatilidade que vai ficar para a história.

Os índices americanos baixaram quase 15% em três dias, igualando apenas dois períodos nos últimos 95 anos, em 1987 e no período de 1929-1932. São eventos raríssimos que estão associados a algum tipo de evento extremo. Neste caso, o evento extremo chama-se Administração Trump.

É sabido que os EUA têm um problema de dívida que irá, mais cedo ou mais tarde, ter de ser endereçado. Resta saber ‘como’. Se de forma abrupta, causando ondas de choque imprevisíveis onde todos perdem, ou de forma transitória, onde o crescimento possa compensar e até aligeirar a dívida, tornando-a mais sustentável.

À primeira vista, impor uma taxa sobre todas as importações parece resolver um problema de receita orçamental, porque são cobrados mais impostos. Se somarmos às poupanças previstas do DOGE – Departamento para a Eficiência Governamental, a nova Administração contava com uma redução do défice expressiva.

Talvez por terem constatado que as verdadeiras poupanças do DOGE serão menores que o previsto, foi adotada uma estratégia diferente, i.e., optou-se por aumentar as taxas alfandegárias expressivamente, tentando, por essa via, renegociar os acordos comerciais.

Só há um problema. Não se exporta por decreto, nem se equilibram défices comerciais com taxas, a não ser que sejam de tal forma elevadas que acabam por contribuir para a diminuição do comércio, levando, em última análise, à redução da receita.

Mas a forma como os anúncios foram feitos colocaram em causa a única característica que até hoje era inabalável – a confiança nos EUA e no dólar. Esta mudança de perceção terá consequências que são imprevisíveis e levará à alteração de investimentos na ordem dos triliões de dólares.

Os próximos meses serão de incerteza e volatilidade, tal como ficou comprovado com o mais recente anúncio de Trump de que “este era o momento ideal para comprar ações”, para logo de seguida anunciar a moratória de 90 dias da aplicação de taxas adicionais aos países que não retaliaram, ficando-se pelos 10%.

Mas a verdadeira razão para este recuo, embora vendido como vitória, foi o congelamento do mercado de crédito. As empresas não conseguem emitir dívida nem refinanciar-se no mercado por conta da instabilidade. Bancos, fundos e investidores preferem esperar a investir e a correr riscos.

Trump evitou a depressão com a decisão de não escalar a guerra comercial, mas a recessão já está instalada nos EUA e será sentida pelas empresas nos próximos dois trimestres. A Europa tem uma oportunidade de ouro de se substituir aos EUA como farol da democracia e estabilidade. É só cumprir com o que foi anunciado!