Assumindo que a pandemia ficará mesmo para trás, algo de que estou convicto, um dos principais desafios para 2022 é seguramente contraintuitivo.

Seria normal esperar que, ultrapassada a Covid-19, o planeta entrasse num período de aceleração económica. Esta semana, o Banco Mundial cortou significativamente as previsões de crescimento para este ano, alertando-nos que o risco é precisamente de que a economia desiluda.

Há cerca de seis meses, escrevia nestas páginas que a deriva regulatória chinesa poderia constituir uma ameaça forte ao crescimento. Há cada vez mais sinais nesse sentido, com o Banco Central local a posicionar-se em contraciclo com o resto do mundo, tendo cortado taxas de juro. As previsões são que a China cresça 5,1% este ano face aos 8% do ano passado.

O Banco Mundial prevê agora que o PIB mundial cresça 4,1% este ano, abaixo dos 4,3% projetados em junho e dos 5,5% do ano passado. Em 2023, o produto deverá crescer ainda menos (3,2%) e continuar abaixo dos níveis pré-pandémicos em termos gerais, com a situação a agravar-se nas economias emergentes e em desenvolvimento.

As manchetes destacam a nova variante da Covid-19 e os problemas logísticos como os principais fatores que justificam este pessimismo. Mas, no relatório, há outras causas mais interessantes, nomeadamente a perceção de que o fim da pandemia significará também o fim dos incentivos monetários e fiscais.

O Banco Mundial refere ainda o fardo da dívida com que muitos agentes económicos – e países – saem da pandemia e que reduzirá significativamente os seus graus de liberdade. Se as taxas de juro subirem, como já se vai notando, o serviço da dívida vai pesar, sobretudo em países de “moeda fraca”.

Outro aspeto interessante do relatório é mencionar o aumento da desigualdade de rendimentos e de taxas de vacinação, como indutores de desaceleração da economia global.