O dia em que é apresentado o Anuário do Futebol Profissional Português, já na sua terceira edição, serve de rampa a um balanço do que foi uma época absolutamente atípica, desafiante e de absoluta superação. Esta é uma ferramenta de gestão importante que a Liga Portugal, pioneira neste tipo de estudos no nosso país, desenvolve em parceira com a EY, e coloca à disposição dos Clubes e de todos os que tenham interesse em medir o impacto que a Indústria do Futebol tem, atualmente, na Economia do país. E quão significativo ele já é!

Na temporada 2018-19, a Liga Portugal e as Sociedades Desportivas geraram 851 milhões de euros em volume de negócios, mais 244 milhões de euros do que na época anterior, tendo contribuído com cerca de 549 milhões de euros para o PIB português, um incremento de 40% (!) em relação ao período homologo e que representa um 0,27% do PIB nacional.

O Futebol Profissional é hoje muito mais do que só um jogo, mas também uma atividade empresarial em que 34 empresas contribuem com mais de 150 milhões de euros em impostos para o Orçamento do Estado. A visão do Futebol como Indústria, que sempre defendemos, foi ainda mais reforçada com a adesão da Liga Portugal à lista de associados da CIP, a quem não posso deixar uma palavra de agradecimento na pessoa do seu Presidente, António Saraiva.

O impacto e a forma como hoje a nossa atividade interage com a economia portuguesa, bem demonstrada nos dados do anuário que hoje lançamos, reforça a nossa já assumida ambição de que a indústria do Futebol passe a estar também sob a alçada do Ministro da Economia, numa dupla tutela com Ministério de Educação e a Secretaria de Estado da Juventude do Desporto.

A dimensão empresarial do Futebol Profissional acarreta, por outro lado, responsabilidades acrescidas ao papel da Liga Portugal como organizador e regulador desta atividade. É nesse sentido que temos trilhado, ao longo dos últimos 5 anos, um caminho guiado pela exigência, o rigor e a transparência não só da gestão da Liga, como do licenciamento para a participação das Sociedades Desportivas nas competições profissionais. O Manual que contempla os pressupostos de natureza financeira, legais e estruturais tiveram um crescente incremento de rigor e exigência o mesmo aconteceu com o controle salarial, agora avaliado quatro vezes por ano. Ambos determinando, por vontade expressa das Sociedades Desportivas cumpridoras, um regime sancionatório mais duro que não pode deixar de ser aplicado.

Urge, porém, também em nome da transparência, uma revisão célere ao atual Regime Jurídico das Sociedades Desportivas. Por forma a que as instâncias desportivas possam ter as competências necessárias para um maior escrutínio de potenciais investidores previamente à sua entrada no capital social das Sociedades Desportivas.

Época 2019-20

Terminámos a temporada, dois meses depois do que estava inicialmente previsto, após um processo de retoma que se percecionou suave e tranquilo, mas que apenas assim ocorreu pelo resultado de trabalho exaustivo e detalhado da equipa da Liga e dos clubes, em harmonia com a Direção Geral da Saúde e FPF.

Desde a primeira hora, e apesar de toda a incerteza que a pandemia provocou, que nos focamos na convicção, publicamente assumida, do término da nossa época em campo. Conseguimos uma parte.

Valeu a pena não desistir. Terminada a temporada é imperativo partilhar uma palavra sincera de reconhecimento com todas as Sociedades Desportivas por terem acreditado também elas na retoma das competições, por terem estado sempre disponíveis para o dialogo e busca de soluções, mesmo com esporádicas visões diferentes, como é apanágio de qualquer debate democrático de ideias, e num espirito que foi decisivo para a realização em campo, e na esmagadora maioria dos estádios, das 34 jornadas da Liga NOS 2019-20.

A forma como todo este processo decorreu e o cumprimento escrupuloso de todo o protocolo definido, fizeram do futebol profissional um forte exemplo de conduta responsável para toda a sociedade portuguesa, algo que me deixou profundamente orgulhoso.

Novos desafios

O término da Liga NOS permitiu minorar a catástrofe financeira que pendia sobre os clubes, com perdas que poderiam ascender aos 318,5 milhões de euros, caso a época não tivesse sido finalizada. Ainda assim, não podemos deixar de registar que, com as 10 últimas jornadas da Liga NOS realizadas sem público, as quebras de rendimento expectáveis estão na ordem dos 127 milhões de euros.

Um valor incomensurável e que revela uma fragilidade que, em 2020, o Futebol Profissional português não devia ter! A Covid-19 realçou, ainda mais, algumas das vulnerabilidades existentes no sector, sinalizando, no topo destacado dessa lista, a obrigatoriedade de se avançar, de uma vez, para adoção de reconhecidos modelos internacionais, sem quais o regulador da competição continuará inoperante na busca de soluções que defendam a sustentabilidade financeira das Sociedades Desportivas e a redução das assimetrias crescentes entre clubes pertencentes a uma mesma competição.

A época que agora se inicia traz consigo um objetivo claro para a Liga Portugal e para o seu Presidente: fazer regressar o público aos estádios!

Deixando claro que a saúde pública virá sempre em primeiro lugar, tornar-se incompreensível que o Desporto como atividade de entretenimento que é, esteja a ser marginalizada em relação a todas as outras de lazer e cultura.

Precisamos do vibrar dos cânticos dos adeptos do calor dos seus festejos e da força das suas paixões!

Não nos podemos silenciar ao observar que todas as atividades culturais, incluindo a tauromaquia (!), tenham, e bem, recebido luz verde para receber espectadores e se mantenha um critério diferente para os espetáculos desportivos, com o impacto que isso acarreta no plano financeiro para a indústria.

A época 2020-21 será, talvez, a que mais incertezas e desafios alguma vez suscitou no seu arranque inicial. No plano desportivo, confrontamo-nos com um calendário duro e compactado, que exigiu no momento da sua construção muita reflexão e cedências, como é disso prova a redução da Allianz Cup de 45 para 7 jogos na presente temporada. É momento de estabilização dos quadros competitivos atuais, ao mesmo tempo que protegemos e potenciamos a participação das equipas portuguesas na Europa.

Modelo de Governação

O caminho da gestão da Liga Portugal tem necessariamente que ser mais empresarial, centrada num Presidente e numa Direção Executiva, com pelouros especializados numa hierarquia de serviços competentes e profissionalizados. O órgão consultivo será um Conselho de Presidentes, contudo cabe à administração da “empresa” (Liga Portugal) gerir os destinos da sua atividade.

Uma nova e mais moderna gestão ajudará a que a Liga Portugal possa ombrear com as grandes Ligas Europeias. Sem prejuízo desta convicção pessoal não posso deixar de dar uma palavra de reconhecimento aos representantes das Sociedades Desportivas que comigo têm feito este caminho ao longo dos últimos 5 anos.

A época já começou, as convicções estão renovadas e o caminho fá-lo-emos juntos!