A pandemia coronavírus (Covid-19) reforça a importância da transparência financeira e coloca pressão adicional na função financeira das empresas.

Num contexto de incerteza, a transparência e a prestação de informação financeira e não financeira fidedigna serão fatores fundamentais para reconquistar a confiança dos investidores. É expectável uma evolução do escrutínio do relato financeiro o que constituirá um desafio para quem prepara as demonstrações financeiras, comités de auditoria e auditores.

As empresas estão a ser afetadas de formas e em escalas diferentes e, embora exista o desafio comum de enquadrar a pandemia nas suas operações no curto e médio prazo, verifica-se, e espera-se, uma diversidade de áreas afetadas ao nível do relato financeiro.

Neste contexto, destacamos os seguintes tópicos a ponderar e avaliar durante a preparação do relato financeiro das empresas:

1. Continuidade e liquidez – Ao preparar demonstrações financeiras, a administração deve avaliar a capacidade de a empresa prosseguir a operar em continuidade e se esse pressuposto é apropriado. Dada a imprevisibilidade do impacto da Covid-19, poderão existir incertezas materiais que provocam dúvidas sobre a capacidade de a empresa operar sob o pressuposto da continuidade, pelo que, ainda que este pressuposto seja o adequado, será muito relevante a divulgação destas incertezas.

2. Análise de imparidade – No final de cada período a reportar, as empresas devem avaliar a existência de indícios de imparidade nos seus ativos. O impacto adverso de medidas para conter a propagação da doença Covid-19 como o fecho temporário de fábricas e serviços, restrições das viagens e das importações/exportações poderão ser considerados indicadores de imparidade a ter em conta. Quão mais incerto é o contexto atual e futuro, maior a importância de a empresa divulgar os pressupostos assumidos incluindo o impacto na sua alteração dos principais pressupostos.

3. Alterações contratuais – Avaliar se quaisquer mudanças nos contratos existentes representam uma modificação substancial ou uma extinção do contrato em vigor. Os credores, como instituições financeiras e arrendatários, deverão dar especial atenção a este tópico pelas alterações contratuais (ou legais) decorrentes das ações orientadas para alívio dos fluxos de caixa das empresas.

4. Avaliação do justo valor – A determinação do justo valor na data de reporte de alguns ativos e passivos, estará dependente da gravidade da pandemia e das condições e pressupostos conhecidos nesse momento. As empresas deverão divulgar informação que possa de alguma forma influenciar as decisões dos utilizadores, os pressupostos utilizados e o impacto da sua alteração, incluindo-se possivelmente a extensão em que a Covid-19 influenciou a determinação do justo valor.

5. Assistência governamental e impostos sobre o rendimento – Parte da resposta dos governos ao surto de coronavírus consistiu em medidas de apoio para indústrias individuais, juntamente com pacotes de estímulo económico mais amplos. O reconhecimento contabilístico deste tipo de incentivos carece normalmente de julgamento devendo ser bem ponderado.

A função financeira enquanto parceiro de negócio das organizações, pode, através do reporte financeiro, desempenhar um papel importante na comunicação entre as empresas e os seus stakeholders em tempos conturbados como este que vivemos, para o que, deverá antecipar entre outros, os temas aqui apresentados.