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Desafios dos CTT: renacionalização fica para a agenda da próxima legislatura

Regresso dos correios ao setor público é ambição dos partidos mais à esquerda, mas o ministro Pedro Nuno Santos coloca para já a mira na renegociação da concessão do serviço postal universal.
  • Cristina Bernardo
13 Maio 2019, 07h49

Resultados e estratégia, pressão política e social, desvalorização da cotação. Francisco Lacerda não resistiu aos problemas do CTT e na sexta-feira apresentou a demissão “por entender ser do interesse da sociedade proceder a uma transição de liderança da equipa executiva dos CTT nesta fase”.  O comunicado divulgado no site da CMVM não oficializou o nome do sucessor de Lacerda, mas o Jornal Económico (JE) sabe que deverá ser João Bento a liderar os correios.

Até agora administrador não-executivo do Grupo CTT, João Bento é também  vice-presidente do Grupo de Manuel Champalimaud, maior acionista individual dos CTT com 12,58% do capital social. Neste momento de transição, o JE faz o retrato dos principais desafios que o novo CEO irá enfrentar: este sobre a pressão política para a nacionalização, outro sobre o desempenho do título em bolsa e outro sobre a estratégia do grupo.

A renacionalização dos CTT – Correios de Portugal é uma reivindicação recorrente das forças políticas situadas mais à esquerda na Assembleia da República, e que recolhe apoios em diversos setores socialistas. mas não avançou no início deste ano e foi endereçada para a próxima legislatura, ficando dependente dos entendimentos que venham a ser necessários para garantir a aprovação do Programa de Governo em caso de nova vitória sem maioria absoluta do PS de António Costa.

Sendo certo que a manter-se Pedro Nuno Santos como o responsável pela tutela depois das próximas legislativas os CTT terão no Governo um interlocutor claramente desfavorável à privatização realizada pelo Executivo de Passos Coelho, na sequência da intervenção da “troika”, está longe de ser certo que isso implique uma transformação drástica no controlo da empresa.

Mais assumida é a necessidade de a renegociação do contrato de concessão do serviço postal universal primar por um grau de exigência muito superior. Ouvido em audição parlamentar pela Comissão de Economia no final do mês passado, Pedro Nuno Santos realçou que terá de ser garantida a reposição de um mínimo de um posto por cada concelho português. “Houve uma privatização mal feita, que não acautelou o interesse nacional”, acusou o ministro das Infraestruturas. E logo de seguida, através de um comunicado, o seu gabinete esclareceu que todos os cenários são possíveis, incluindo a renacionalização.

Essa posição, partilhada por muitos no PS, não impediu que três projetos de lei dos partidos mais à esquerda tenham sido chumbados na Assembleia da República a 22 de fevereiro. Bloquistas, comunistas e verdes requeriam a renacionalização da empresa em nome da salvaguarda do “interesse público nacional”. Coube aos deputados do PS, PSD e CDS-PP assegurar que nenhuma dessas iniciativas surtiria efeito.

Logo no início do ano António Costa marcou diferenças entre os CTT e outras empresas em que houve travão à iniciativa privada, como a TAP, a Carris ou os STCP, visto que a privatização que teve lugar em 2014 ficou completamente executada. O primeiro-ministro respondeu ao apelo à renacionalização feito pelo secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, lembrando que cabe à Anacom o escrutínio do cumprimento do contrato de concessão.

A renegociação da concessão do serviço universal postal terá forçosamente de ocorrer até ao final do próximo ano, visto que a concessão aos CTT – Correios de Portugal é válida até 31 de dezembro de 2020. Segundo dados revelados pela Anacom – Autoridade Nacional de Comunicações,  que apontou diversas vezes o dedo à deterioração dos indicadores de desempenho da administração de Francisco Lacerda, o número de concelhos de Portugal sem balcões dos CTT subiu para 33 no ano passado.

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