O hidrogénio verde é peça-chave na transição energética e Portugal tem condições únicas para liderar esta revolução. Portugal, com o seu sol abundante e capacidade tecnológica crescente, tem nas mãos uma oportunidade única de liderança neste novo ciclo energético.
A descarbonização da economia passa pela sua crescente eletrificação, mas também pelo aparecimento de combustíveis alternativos, capazes de apresentar um balanço carbónico nulo ou mesmo de não originarem qualquer emissão de CO₂. Nesta última categoria encontra-se o hidrogénio (H₂) – desde que seja verde! –, cuja libertação de energia resulta da sua combinação com o oxigénio (O₂), produzindo apenas água como subproduto.
O H₂ permite, aliás, algo mais: ao comportar-se como um vetor energético, possibilita o armazenamento temporário de energia, diretamente ou em combinação com outros elementos, como, por exemplo, a amónia ou o metanol.
Sendo o elemento mais leve e abundante no Universo, o hidrogénio não se encontra, até agora, disponível em forma elementar [1] na natureza, mas sim combinado com muitos outros elementos, e em grande quantidade. Um exemplo claro é a água. É, aliás, a partir da água, através de um processo chamado eletrólise, que o podemos obter com maior facilidade – embora com necessidade de investimento energético. Se essa eletricidade for gerada por fontes de energia renovável, então o hidrogénio produzido é considerado verde.
Na Europa, Portugal está particularmente bem posicionado para a produção de hidrogénio verde. Somos um país rico em energias renováveis, em especial em energia solar. Cerca de 80% da nossa eletricidade (energia final) já provém de fontes renováveis, o que nos permite assumir, com maior facilidade do que outros países, o papel de consumidores e produtores para exportação – aproveitando também a vantagem estratégica dos nossos portos. Sol e Sines são, assim, uma excelente combinação já em vias de ser explorada para a produção de H₂ verde.
O maior desafio atual prende-se com a redução do custo de produção do hidrogénio verde. A principal dificuldade reside no custo da tecnologia associada aos eletrolisadores – uma vez que a eletricidade, sobretudo a proveniente do fotovoltaico, já é bastante barata. No entanto, têm sido feitos grandes avanços no desenvolvimento tecnológico e na produção de equipamentos. Com a escala que será trazida pelos primeiros grandes investimentos, espera-se uma descida significativa no custo de produção do hidrogénio – para valores duas a três vezes mais baixos do que os atuais, até se atingir o valor de referência de 1,5 €/kg.
Importa também considerar os custos associados ao armazenamento do hidrogénio e à criação de redes de distribuição, independentemente da forma sob a qual venha a ser disponibilizado. Tal como aconteceu com outros vetores energéticos no passado, estas infraestruturas irão evoluir com o tempo.
A economia do hidrogénio aplicada à energia terá impactos significativos em várias áreas, nomeadamente:
- Como combustível para transportes pesados – rodoviários, marítimos, aéreos – e para frotas cativas;
- Na indústria, ainda fortemente dependente de combustíveis fósseis como o gás natural;
- Na possibilidade de funcionar como forma de armazenamento de energia, equilibrando a produção e o consumo.
No que toca ao setor imobiliário, o impacto direto do hidrogénio verde não será tão expressivo. A utilização mais provável será através da mistura com o gás natural, algo tecnicamente viável até cerca de 20%, combustível ainda utilizado em muitos dos nossos edifícios. Contudo, com a progressiva eletrificação do setor imobiliário, caminhar-se-á para a redução – e eventual eliminação – do uso de gás natural nos edifícios, o que acabará por reduzir também o impacto potencial do hidrogénio neste setor.