Esta semana foi indicado pelo Presidente da República de Angola o novo governador do Banco Nacional de Angola (BNA), o economista Manuel Dias, para os próximos seis anos. Suceder no cargo José de Lima Massano, o agora ministro de Estado para a Coordenação Económica, é uma tarefa exigente no atual contexto, embora Manuel Dias seja alguém muito experimentado que tem ao longo dos últimos anos deixado a sua marca no BNA, assim como o competente Pedro Castro e Silva que se mantém na vice-presidência do banco central angolano.

O momento atual em Angola é desafiante por dois motivos: em menos de dois mesas o Kuanza caiu cerca de 50%; e deu-se a repentina decisão, embora já há muito discutida, do aumento significativo do preço da gasolina. Estes dois fatores têm um enorme impacto no tecido económico e industrial, assim como na vida das famílias angolanas que veem o seu poder de compra ser afetado repentinamente.

Na minha perspetiva, a redução dos subsídios aos combustíveis faz todo o sentido, mas essa redução devia ter sido feita de forma faseada, diminuindo dessa forma o forte impacto na economia e na vida dos angolanos. É uma constatação que praticamente nenhum estado no mundo tem um subsídio aos combustíveis com a dimensão que existe em Angola. Este subsídio sai do Orçamento de Estado angolano e é uma verba que podia ter outro destino social ou económico.

No passado sábado, houve uma manifestação nacional que foi espoletada em grande medida pelo impacto dos combustíveis e pela desvalorização da moeda. Essa manifestação, onde participaram maioritariamente jovens angolanos, muitos deles desempregados, também revela um sinal de maturidade democrática, como é evidente, mas também não pode deixar de ter uma leitura política para quem governa o país. Em política, o planeamento e uma boa ou má comunicação das políticas faz toda a diferença.

Manuel Dias, quadro do BNA desde 1997, iniciou o seu mandato com uma declaração positiva: “Eu sou um quadro do BNA, sei que isso tem estado a gerar muitas expectativas quer a nível do próprio banco, mas sobretudo a nível da sociedade”. A principal missão de um banco central é a estabilidade do sistema financeiro nacional. E é precisamente nesta responsabilidade que se espera uma intervenção rápida e que permita salvaguardar a economia angolana e também uma parte muito significativa da população que está a passar sérias dificuldades.

É justo reconhecer a tentativa esforçada de Angola em tentar captar investimento estrangeiro, mas que pode sair muito prejudicada por esta desvalorização galopante da moeda angolana. Qual é o investidor que faz o seu investimento com a entrada de capital direto na economia angolana e que vê esse investimento desaparecer em quase 50% de um momento para o outro? Isso obviamente não é positivo, uma vez que comporta muitos riscos para o investidor.