Em outras geografias prepara-se o pós-pandemia partindo da constatação de que não se irá voltar ao mesmo. Há oportunidades a explorar para ascender a um novo e mais evoluído patamar no sector da saúde. Por cá, procura-se estimular o debate sobre a reforma do sistema de saúde para que não fiquemos para trás.

Foram publicados dois artigos de opinião na “Forbes”, o primeiro em 1 de junho, de Pamela Spence, EY Global Health Sciences and Wellness Industry Leader e o segundo em 15 de julho, de Aloha McBride, EY Global Health Leader.

No seu artigo de opinião, Pamela Spencer refere alguns dos impactos da pandemia, tocando em algumas áreas onde a situação de crise sanitária provocada pela Covid-19 facilitou uma mais rápida adoção de outras formas de cuidados médicos. Segundo a autora, “we are at the nascent stages of ‘health experience’, a care system that prioritizes well-being that is more accessible, mobile and fluid across platforms”. Reforça esta ideia concluindo que “health experience is not about selling new treatments or products; it is a reorientation of care around the entire patient journey and the individual’s quality of life”.

Também com este olhar para o futuro pós-pandemia, Aloha McBride aborda a perspetiva da “combination of smart health technologies with empathy will be key to transformation (think wearables that monitor health readouts and alert doctors on a patient’s behalf)”. Aloha antecipa o florescimento de parcerias e plataformas tendo por base que um “system that works together provides a superior user experience”. Alerta, no entanto, que os reguladores “will need a strong stance on the security of interoperable data, ensuring consumers have control over their health information”.

Por cá, enquanto a saída das restrições decorrentes da pandemia vai sendo ensaiada entre avanços e recuos, o foco sobre o futuro pós-pandemia não parece ser o mesmo e os sinais que vão surgindo devem constituir um alerta para as decisões a tomar. Em noticias que vão surgindo, os media dão conta de diversos problemas, uns recentes outros crónicos. O desgaste sentido pelos profissionais de saúde com maior enfoque no Serviço Nacional de Saúde (SNS), acusando o cansaço e a desmotivação e consequentes saídas para o sector privado ou para fora do país, o concurso para médicos de família do SNS que não preencheu metade das vagas, um crónico financiamento insuficiente, uma antevisão de um cenário de maiores listas de espera para cirurgias e consultas. Também o inevitável envelhecimento da população, com as consequentes doenças associadas, a par de uma muita falada (mas não inevitável) redução do poder de compra dos portugueses, são fatores que per si trazem desafios acrescidos à renovação e sustentabilidade do SNS em particular.

De vários sectores da sociedade, sobretudo de agentes do sector da saúde, vão surgindo contributos para um debate que importa fazer visando a tomada de decisões que são urgentes: a análise da performance das lideranças, a avaliação da eficiência e da continuidade de diversas instituições do SNS (sejam ARS, institutos, etc), a reorganização da prestação dos cuidados médicos, a transformação digital, a inovação como estímulo para a evolução das organizações, a gestão eficiente dos dados médicos, a promoção contínua da redução do desperdício, o incremento de parcerias, o repensar o modelo atual do SNS.

Há decerto o risco de ficarmos pelos debates, pelas análises e por umas poucas medidas para contentamento e descanso de algumas consciências. Analisar, estudar, debater são fases essenciais do processo, mas será inútil se ficarmos por aqui. É fundamental tomar decisões com visão de futuro, planeá-las para a curto, médio e longo prazo e, finalmente, concretizá-las. Etapas estas que, em Portugal, temos reiteradamente uma enorme dificuldade de atingir.