Esta semana a Reserva Federal dos EUA (Fed) deverá manter inalterada a taxa de juro, o que fará muitos lembrar o Disappointed dos Electronic, de refrão “disappointed, once more; disillusioned, encore”; com efeito, a probabilidade dada pelos mercados a tal acontecer é 99,5%.

Isto já se passou nas reuniões de setembro e novembro de 2023 e na de março deste ano; em julho a Fed tinha subido a taxa um quarto de ponto, a 11.ª subida.

Mas, na conferência de imprensa que se segue à reunião do Open Market Committee, Powell deverá ter dito que não estamos na véspera de começarem as descidas – que é como quem diz que a descida que foi antecipada para este ano, da ordem dos 1,5 a 2 pontos, se ficará pelos 0,5.

Na melhor das hipóteses Powell anunciará um abrandamento no ritmo de venda da carteira de ativos financeiros da Fed, o que mesmo assim marca – parafraseando Churchill – o início do fim do quantitative tightening.

A razão para isto é que, ao contrário da Europa, onde a inflação está a abrandar desde outubro de 2022 (para 2,4% na zona euro e 3,2 % no Reino Unido, embora neste último a inflação core – sem os produtos mais voláteis – esteja ainda nos 4,2%), nos EUA aumentou para 3,5%, surpreendendo pela negativa pelo terceiro mês consecutivo; o core Personal Consumer Expenditure Index, o favorito da Fed, está nos 4,5%.

Ora, diz o ditado que não há bela sem senão; o crescimento económico nos EUA continua sólido e o desemprego muito baixo, o que cria pressão sobre os salários e preços.

Mas a coisa não acaba aqui: diz a Reuters que os desenvolvimentos no Médio Oriente estão a fazer subir as previsões para o preço do petróleo em 2024; ora, um aumento de 10% deste preço eleva a taxa de inflação entre 0,1 e 0,2 pontos, e pelo estreito de Ormuz (39 km de largura) passa 25% do petróleo transacionado pelo mar.

Portanto, se como Trump e Biden deseja ver descer os juros – único ponto de acordo entre os dois –, desiluda-se. Aliás, os mercados financeiros estão em queda. E isto, junto com a situação geopolítica atual, pode fazer subir o preço do ouro, o refúgio tradicional: a Pure Gold Company, que negoceia ouro e prata, viu as vendas do metal nobre dobrar em 2023 e espera um aumento maior na procura este ano.

Mas apostar nisto é como apostar no vencedor das eleições nos EUA: está por sua conta e risco. O que tem menos risco é que se Trump vencer, Powell já não terá as mãos livres. Diz o “Wall Street Journal” que ele tem gente a preparar legislação a limitar a independência do banco central americano.