Transição e resiliência estão no topo das palavras mais utilizadas no ano que termina. Em Portugal, um bom exemplo é, o Plano de Recuperação e Resiliência, no âmbito da quadro comunitário de apoio para o período 2021-2027. Neste, traça-se a resiliência para implementar operações integradas de auxilio às comunidades desfavorecidas das áreas metropolitanas. Delineia-se a transição climática no apoio à mobilidade sustentável e inteligente, a descarbonização e eficiência energética. Estimula-se a transição digital para propor um Estado mais perto do cidadão.
Perante estes desafios, para os próximos sete anos, verifica-se, também, que a pandemia da Covid-19 acelerou a necessidade de transições sociais para futuros mais sustentáveis, onde o desenho da resiliência deverá assentar em políticas públicas locais que garantam a melhoria das condições de vida das cidades do amanhã. Princípio já defendido, em 2016, por Maryse Gautier, copresidente da comissão preparatória do Habitat III. A chave está em dar oportunidade aos cidadãos e aos governos locais para se exprimirem e manifestarem as suas ideias e projetos de futuro. Assim, são necessários espaços para discussão e debate sobre futuros alternativos assentes na exigência de conhecer a realidade para a codesenhar através de uma visão de transição. Um processo circular, iterativo que poderá ser usado para desenhar cenários disruptivos a diferentes escalas. O codesenho de infraestruturas, incluindo recursos como a energia, a economia, a alimentação, a saúde e a educação, têm um papel essencial na coesão territorial.
Mas, como poderemos desenhar esta transição? Não será uma tarefa fácil, porém a solução pode passar por um Transition Design. Conceito originalmente proposto por Gideon Kossoff, que argumenta que a transição para um futuro sustentável deverá assentar num processo de desenho de soluções suportadas por uma visão de longo prazo, pela integração de conhecimento multidimensional e a necessidade de pensar/agir em contexto. Para tal, é preciso uma nova prática que promova uma transição social que preconiza a reconcepção de estilos de vida urbanos, com o objetivo de desenhar lugares mais sociáveis e participativos em harmonia com o ambiente natural. Isto é, alavancar um ‘localismo cosmopolita’ (Link 4), um estilo de vida regional e local, mas globalmente consciente do papel da troca de informação e da tecnologia.
Na estrutura desta nova prática é central, também, compreender o que está na base do conceito de mudança. Desenhar soluções para uma mudança social dependerá, sempre da nossa capacidade de alterar as nossas ideias sobre a própria mudança – como ela se manifesta e como pode ser iniciada e dirigida. Este conhecimento conduzirá os desenhadores da transição a um novo pensamento sustentado nas sabedorias dos lugares que, por sua vez, levam a mudanças de mentalidade e postura. Tudo isso dará origem a novas formas de projetar comunidades sustentáveis e resilientes.
Em suma, os desenhadores da transição para atuarem como ativistas de mudança, terão que implementar novas abordagens à resolução dos problemas, baseadas numa compreensão profunda da dinâmica de transformação dentro dos sistemas sociais e naturais complexos a nível local.