Os EUA caminham para registar o quarto mais elevado défice orçamental da sua história, depois dos de 2020 e 2021, por causa do Covid, e do de 2009, quando da crise financeira. Segundo o Committee for a Responsible Federal Budget, atingirá este ano (o ano fiscal nos EUA acaba a 30 de setembro) os dois milhões de milhões de dólares, cerca de 6,5% do PIB e oito vezes o PIB português.
Em 2020 e 2021, em pleno Covid, atingiu 3,1 e 2,8 milhões de milhões de dólares, de acordo com o Congressional Budget Office (CBO), mas em 2022 caiu para metade – 1,4 milhões de milhões, o quarto mais alto da história, muito perto do défice de 2009. E lembre-se que o Supremo tribunal americano vetou o perdão da dívida estudantil prometido por Biden, o que evitou mais 400 mil milhões de dólares de despesa (em 2022).
O facto em si não é extraordinário. É-o porque estamos num ano em que a conjuntura económica foi e está a ser favorável e o desemprego está a mínimos históricos – se subiu para os 3,8% em julho foi porque a taxa de participação aumentou. Nestes anos, a receita fiscal costuma ser elevada, fruto da forte atividade económica, e a despesa orçamental baixa, com a redução do subsídio de desemprego (por haver menos desemprego) e de outras despesas; são tipicamente anos de excedente orçamental.
Em contrapartida, nos anos de recessão o apoio à atividade e o menor volume de impostos levam ao défice orçamental, quando a despesa pública ajuda a suportar a economia. Daí falar-se em estabilizadores automáticos. Ora, o que está a acontecer nos EUA é precisamente o contrário, o que não deixa antever nada de bom – se é assim agora, como será quando a economia arrefecer?
As principais consequências de um défice desta dimensão são simples: taxas de juro altas, por via do financiamento, e mais inflação. A prazo o serviço da dívida aumenta e haverá pressão sobre as outras despesas públicas. Mas dentro de poucos meses teremos mais uma ameaça de shutdown da administração americana à volta das medidas de corte da despesa, tudo isto mediatizado pela campanha presidencial.
No último shutdown a Fitch baixou o rating dos EUA de AAA para AA+, argumentando com a “erosão da governance” da economia americana. Em julho a despesa crescia 16% e a receita caia 7%. O CBO prevê que a dívida aumente de 98% do PIB para 181% em 30 anos, com o seu custo (taxa de juro) a passar de 2,7% para 4%; se aumentar para 5% a dívida atingirá 231% do PIB. Uma trajetória não sustentável. Que irá a Fitch dizer desta vez?