Coincidindo com a abertura do Fórum Económico Mundial em Davos, a organização humanitária britânica Oxfam divulgou novos dados sobre a concentração de riqueza a nível mundial.

Segundo a Oxfam, desde 2020, os cinco homens mais ricos do mundo duplicaram as suas fortunas, acumulando 14 milhões de dólares por hora, enquanto centenas de milhões de pessoas assistiram a cortes salariais.

Como medidas para atenuar a desigualdade, esta organização propõe investimento em serviços públicos como saúde e educação e a participação do governo em setores decisivos como energia e transportes. E alerta para a necessidade de criar uma legislação que garanta salários dignos, limite a remuneração dos executivos e taxe os ultra-ricos e os lucros excessivos.

Em paralelo, num misto de rebate de consciência e filantropia, um conjunto de milionários publicou uma carta aberta onde pedem que sejam cobrados impostos sobre a sua riqueza para financiar bens públicos à escala mundial.

Para estes milionários, a desigualdade atingiu um ponto de rutura, pondo em risco a estabilidade económica, social e ecológica. Usam assim a sua influência contra a inatividade que parece ter assolado os governos nacionais.

Nos antípodas deste grupo encontra-se Elon Musk – dono da rede social X e da Tesla – o homem mais rico do mundo, segundo a revista “Forbes”, que estima que a sua riqueza líquida seja de cerca de 235 mil milhões de dólares.

Musk não gosta de sindicatos. Na Suécia, entrou em conflito com o sindicato IF Metall por lhe ter exigido um acordo coletivo para melhorar os salários e atribuir benefícios aos mecânicos das oficinas de reparação da Tesla.

A recusa de Musk em aceitar a proposta gerou uma greve, que se iniciou a 27 de outubro passado. Na Suécia, conhecida pelos seus salários altos e menores níveis de desigualdade, cerca de 90% dos trabalhadores estão sindicalizados e os contratos de trabalho são negociados de forma coletiva.

Musk não contava com a dimensão do protesto, com o qual foram solidários outros sindicatos suecos (que lançaram uma ação coletiva contra a Tesla) e sindicatos dos países vizinhos (Dinamarca, Finlândia, Noruega).

A intervenção destes sindicatos, seguramente uma barreira à acumulação (excessiva) de riqueza, está alinhada com a solução apontada pela Oxfam – o regresso ao modelo de bem-estar social, onde o trabalho é tratado com dignidade.

Em suma, a fórmula para combater a desigualdade é velha e está mais que testada. Os governos só têm de ter a coragem de aplicá-la.