Neste momento, é impossível não refletir sobre a desgraça que se abateu sobre os portugueses nos últimos anos. Milhares de milhões de euros foram sugados aos portugueses por pessoas sem escrúpulos, sem moral e sem pátria, direta e indiretamente, através de impostos e dívida pública, emissões acionistas fraudulentas, empréstimos incobráveis e muitos outros esquemas legais e ilegais. Portugal arrisca assim entrar no clube das cleptocracias.

Não há números sobre a recente evolução positiva do emprego, da redução do défice e da dívida, da compra de carros ou de habitação que consigam desvanecer da consciência popular o tremendo golpe que foi desferido contra os portugueses, contra o seu bem-estar e o futuro dos seus filhos. Contra a ideia e a prática de Estado democrático e de direito. Contra os valores progressistas das democracias liberais e da iniciativa privada. Foi um duro golpe no moral da nação.

O golpe antiportugueses culminou e agravou 44 anos em que muito mais poderia ter sido feito para melhor e muito menos para pior. Esvaneceram-se recursos materiais e humanos que teriam contribuído para colocar Portugal no “pelotão da frente”, como se dizia.

Verifiquem-se alguns números muito simples. Este gráfico da OCDE compara a evolução do PIB per capita de Portugal com o dos outros países membros daquela organização. A primeira observação toma como benchmark a média do PIB per capita da OCDE em 1974 e em 2017 e compara com o PIB de Portugal, Espanha, Finlândia, Irlanda e Coreia nesses dois momentos.

Em 1974, o PIB per capita dos países membros da OCDE era de 5.061 dólares. Portugal apresentava 3.382 dólares, o que era equivalente a 66,8% da OCDE. Espanha 4.325 = 85,4%. Finlândia 5.100 = 100,7%. Irlanda 3.500 = 69,1%. Coreia 1.055 = 20,8%.

Quarenta e três anos depois, em 2017, o PIB per capita da OCDE era de 43.800 dólares. Portugal apresentava então 32.165 dólares, igual a 73,4% da OCDE, um aumento relativo de 6,6%. Os números dos outros países revelam algumas surpresas. A Espanha (38,110) melhorou a diferença relativa em apenas 1,6% nesse intervalo de tempo. A Finlândia (45,204), cujo PIB per capita era em 1974 quase igual ao da OCDE no seu conjunto, aumentou mais 2,5%. A Irlanda (76,485) disparou e aumentou 105,5%. E a Coreia subiu 66,6%.

Depois faz-se outra comparação com países do antigo bloco soviético, só possível a partir de 1995 para alguns deles.

Em 1995, a OCDE apresentava um PIB per capita de 20.374 dólares. Nesse ano, uma década depois da adesão à CEE, Portugal tinha um PIB per capita de 14.385 dólares, igual a 70,6% da OCDE. A República Checa tinha um PIB per capita inferior ao de Portugal, 13.747 dólares, igual 67,47% da OCDE. Eslovénia 13.563 = 66,5%. Polónia 7.729 = 37,9%. Estónia 6.234 = 30,6%. Rússia 6.038 = 29,6%.

Vinte e dois anos depois, em 2017, a OCDE apresentava um PIB per capita de 43.800 dólares. Portugal apresentava 32.165 dólares, igual a 73,4% da OCDE. A República Checa subiu para 36.927, igual a 84%, ultrapassando Portugal. Eslovénia 34.819 = 79,5%, ultrapassando Portugal. Estónia 31.635 = 72,2% e Polónia 28.948 = 68,3%, pouco falta para ultrapassarem Portugal. Fracasso enorme é o da Rússia cleptocrática, apesar do petróleo (valores de 2016): 24.855 = 56,7%.

Agora imagine-se a posição cimeira em que Portugal poderia estar hoje se os milhares de milhões sugados tivessem sido aplicados no desenvolvimento dos portugueses, a todos os níveis. Se tivesse havido respeito pelas pessoas, sentido de Estado, governação firme, pragmática e eficaz, sentido de bem comum, justiça verdadeira, implacável e célere.

Teríamos hoje mais e melhor educação, saúde, justiça, segurança e defesa. Mais bem-estar geral. Estaríamos provavelmente melhor que Espanha e que todos esses países saídos dos escombros do comunismo, que partiram de uma base inferior e que, com a enorme ajuda da União Europeia que também tivemos, estão determinados em colocar-se entre os mais prósperos.