O ano termina com outro duro golpe para a economia. Com efeito esta nova fase da pandemia irá abrandar a actividade económica mundial, num déjà-vu que nos transporta a 2020. Em Portugal, o turismo e a restauração, motores da economia, serão novamente afetados com a probabilidade de aumento de falências, ao mesmo tempo que as empresas exportadoras enfrentarão dificuldades com o aumento de custo de matérias-primas e escoamento atempado dos produtos.

Provavelmente os mercados, a preverem um cenário de abrandamento económico global estimam que as taxas de juro, pelo menos na Europa não irão subir tão cedo.

A economia mundial iniciou um período de estagflação, ou seja de abrandamento do crescimento, conjugado com inflação causada principalmente pela subida do preço da energia e pelas interrupções das cadeias de abastecimento. Curiosamente, o inventário das empresas está a aumentar a nível global, mas o facto de não conseguirem escoar os produtos, cria uma dinâmica perigosa de valorização artificial do inventário, uma vez que quando a assistirmos a uma normalização das cadeias de abastecimento, podemos ter um excesso de oferta no mercado. É essa a aposta dos Bancos Centrais, a da redução de preços, mas que tarda em chegar à economia real.

O aumento de preços, pressionou a Reserva Federal (FED) a alterar a sua política monetária, prevendo agora uma diminuição das compras de activos e a subida mais rápida dos juros. Este movimento contrasta com o do Banco Central da China que cortou a sua taxa de juro, embora simbolicamente em 0,05%, uma vez que se a economia chinesa está a braços com um forte abrandamento do crédito e do mercado imobiliário.  Com efeito os gigantes da construção chinesa vendem agora imóveis e projectos imobiliários com perdas substanciais, o que potencia um problema de desvalorização do inventário de casas com consequências ao nível do sector financeiro.

A dinâmica mundial está dessincronizada temporariamente. Enquanto que a China tenta estimular novamente o crédito e o consumo, os EUA tentam acalmar os americanos que percebem que a inflação está a actuar como uma desvalorização do seu dinheiro.

Podemos perguntar porque é que as taxas de juro a longo prazo, por exemplo a dez anos, não sobem. Com a perspectiva de inflação mais elevada e a retirada de estímulos seria de esperar que as taxas de longo prazo subissem. A resposta está na dívida. A pandemia e os planos de recuperação implementados a nível mundial, na ordem dos triliões de dólares, constituem endividamento público emitida a taxas próximas de zero, dificilmente reembolsável, que não suporta taxas de juro elevadas. É por isso provável que as taxas de juro nos EUA tenham um pico no próximo ciclo em torno dos 1,25% e na Europa estabilizem em torno de zero. Ora com a inflação em níveis superiores é fácil perceber que temos pela frente uma década de desvalorização paulatina e controlada do dinheiro, a chamada desvalorização deslizante.

Perante este cenário, em 2022, os mercados irão continuar suportados, muito embora a volatilidade seja uma constante, por programas de estímulos fiscais adicionais, e por uma politica monetária que irá ficar muito aquém das condições históricas num cenário de inflação.