Nos últimos anos, não sendo este uma excepção, os diálogos estratégicos entre as Áfricas, os Estados Unidos, a União Europeia e a China foram promovidos sob a bandeira de “Futuro África-UE”, “Finanças Sustentáveis” e “Parceria para o Sucesso Sustentável”.
Cada um no seu idioma, colocando em destaque o financiamento sustentável, não apenas como um domínio crítico da cooperação intercontinental, mas para preparar o caminho para uma mudança de paradigma em direcção a uma realidade, numa parceria ganha-ganha baseada em “igualdade”. Um discurso politicamente correcto versus uma realidade em que no diálogo interesseiramente estratégico se lê interesses económicos.
É verdade que fica bonito dizer: “promoção da cooperação equitativa e dos benefícios mútuos, com ênfase na diversificação do comércio e no reforço dos investimentos”. No entanto, este palavreado já não esconde uma dissimulação, pois os Summits com os líderes africanos sucedem-se numa disputa silenciosa entre o Ocidente e a China, transformando o continente africano num verdadeiro “joguete geopolítico”. Neste “novo” paradigma, as Áfricas estão novamente no meio de uma nova corrida por influência. Essa dinâmica torna a região vulnerável a manipulações políticas, com o risco de agravar tensões locais e regionais.
Nestes diálogos interesseiros, pela primeira vez nas Áfricas se percebeu que alguns não andam a dormir… E, numa iniciativa histórica, o CEO bilionário do Grupo Dangote, Aliko Dangote, apelou aos líderes empresariais africanos para que assumam o comando da transformação do futuro do continente.
No entanto, Dangote, aquando do Retiro da Renascença Africana realizado em Kigali, no Ruanda, reconheceu: “Embora esta pequena reunião privada e de alto nível para discutir questões e alinhar sobre como assumiremos e moldaremos nossa narrativa para o desenvolvimento esteja muito atrasada, é preciso avançar”.
Dangote relembrou que África detém cerca de 30% das reservas minerais do mundo, incluindo ouro, cobalto e urânio, bem como 65% das terras aráveis do mundo e 10% das fontes renováveis de água doce globais; e referiu que “Juntos, apresentam uma infinidade de oportunidades para um crescimento robusto e inclusivo que aproveita o nosso abundante potencial humano e recursos naturais para aumentar a prosperidade, não apenas em África, mas em todo o mundo”, apesar dos reconhecidos obstáculos como mudanças nas políticas governamentais, escassez de talentos técnicos, déficits de infraestrutura, desafios cambiais, inflação, altos custos de capital e conflitos.
Os diálogos continuam numa guerra diplomática impulsionada por interesses geopolíticos e geoeconómicos, na lógica de “quem tira mais e mais rápido.” O jogo já começou, todas as peças estão em campo e as Áfricas precisam de prosperar neste diálogo interesseiramente estratégico.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.