O draft da proposta de acordo que poderá vir a sair da COP26 chegou durante a madrugada de 10 de novembro. Nas horas que restam até que seja dada como terminada a Cimeira do Clima, a questão que se coloca prende-se não tanto sobre se veremos sair “fumo branco”, mas, sobretudo, sobre o nível de ambição e, particularmente, de compromisso dos países aqui reunidos relativamente ao combate à crise climática.
De resto, tem sido sempre este o ónus da questão: o nível de compromisso. E, olhando para os números da comunidade científica, os governantes têm reprovado nesta prova.
O documento em discussão é claro quanto à proposta sobre a qual os cerca de 200 países participantes se têm de pronunciar: realizar um esforço conjunto para que as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) sejam reduzidas em 45% até 2030, face aos níveis de 2010; alcançar a neutralidade carbónica até 2050 e aumentar o orçamento mundial para o combate às alterações climáticas acima dos 100 mil milhões de dólares por ano.
Na terça-feira, Alok Sharma, presidente da COP26, reconheceu que os negociadores têm uma “montanha a escalar”, no sentido de chegarem a um acordo suficiente para enfrentar a ameaça do aquecimento global. Verdade! Mas a verdadeira montanha é a que a comunidade internacional, globalmente, e nós, enquanto cidadãos na nossa ação individual, temos de conseguir trepar para que consigamos travar o comboio já em marcha e a circular em alta velocidade: o aumento de 2,7º C da temperatura média global até 2100.
Este valor situa-se muito acima do fixado no Acordo de Paris, em 2015, que continua a sair derrotado destas cimeiras, uma vez que permanece por cumprir o acordado pelos países signatários, de limitar o aquecimento global “bem abaixo” dos 2° C e envidar esforços para o limitar a 1,5° C”. Afirmam os cientistas que, além desse limite, o nível médio do mar sobe e o risco de cheias, secas, incêndios florestais e tempestades, que já se registam em todo o mundo, poderá atingir proporções catastróficas, tornando-se, potencialmente, irreversíveis.
A montanha a transpor está também na linha que separa a retórica da tomada de ação. Essa linha só será efetivamente transposta se cada país apostar numa eliminação gradual de subsídios ambientalmente perversos, como aqueles que são atribuídos aos combustíveis fósseis, e que representam, só no Orçamento do Estado português, cerca de 500 milhões de euros/ano.
Isso significa que não são canalizados para outras áreas de política verdadeiramente prioritárias e que, dessa forma, continuam a contribuir para manter a queima deste tipo de combustíveis responsáveis pela produção de dióxido de carbono. Neste aspeto, a proposta de draft de acordo evidencia, desde logo, uma fragilidade ao não fixar uma data para a sua eliminação.
Sucede, porém, que na melhor das hipóteses, e de acordo com a ONU, juntando as novas promessas de neutralidade carbónica que deverão sair de Glasgow, poderemos esperar ver limitado o aumento da temperatura média global a uns preocupantes 2,1º C. Mas tudo depende – como de resto tem sido e como acima referi – do nível de ambição e da capacidade de compromisso efetiva dos países que, em Glasgow, discutem os contornos do nosso futuro, o nosso, o dos nossos filhos e netos e de todas as espécies com quem coabitamos.
E aqui volto ao princípio: o que nos espera? O aumento inevitável da temperatura em 2,7ºC? Ou a atuação responsável por parte dos governos e governantes mundiais? Espero que o pessimismo (ou o realismo) que marca a resposta que se antecipa saia derrotado…