A semelhança entre Rishi Sunack e Macron é que ambos convocaram eleições para finais deste mês, princípio do próximo; a diferença é que Sunak tinha uma janela de poucos meses para marcá-las, enquanto Macron o fez por opção própria.

Sunak quis estancar a queda que os Conservadores estão a ter na confiança dos britânicos, desde Johnson e Truss, a primeira-ministra cometa pela velocidade com que passou, enquanto Macron não quis deixar instalar uma dinâmica de perda do seu partido e dar tempo a que surgisse outra real alternativa à extrema-direita além dele próprio. Veremos se a estratégia paga, pessoalmente penso que ele fez bem.

A situação mais complexa é de longe a de Sunak. As projeções recentes dão-lhe o pior resultado eleitoral dos Conservadores em perto de 200 anos: é preciso recuar a 1906 para se chegar a um resultado próximo, quando Campbell-Bannerman, do Partido Liberal, ganhou com 397 parlamentares eleitos, e o Conservador Balfour ficou pelos 156.

Nos dias de hoje, a última sondagem do YouGov dá aos trabalhistas uma maioria de 200 seats, com os conservadores a elegerem 108 parlamentares, contra 425 dos trabalhistas. Se parece mau, noutra sondagem a Survation dá-lhes apenas 72. William Hague, que foi líder da oposição entre 1997 e 2001 além de membro do Governo, escreveu no The Times de 17 deste mês que em 1997, logo após a derrota eleitoral dos conservadores para Blair, um atributo importante do Grande Hotel de Eastbourne era ter 152 quartos. Era “o tamanho ideal para o líder do semidestruído Partido Conservador reunir os apenas 165 eleitos, antecipando que uma dúzia deles não quereria passar dois dias inteiros com os colegas”.

Hoje Sunak corre o risco de ficar pelo quarto de hóspedes de um amigo, o que não deixa de ser injusto. No fundo, ele está a pagar as loucuras e os excessos de Johnson e as confusões de Truss e o seu incrível mini orçamento; ela durou na função menos de metade dos 100 dias de Napoleão. Os dois deram uma machadada na credibilidade dos Conservadores, e catapultaram Starmer para estar condenado a ganhar.

Estamos no ponto em que a batalha de Sunak pode não ser contra Starmer mas contra Nigel Farage – evitar que o Partido da Reforma tenha mais votos que os conservadores. Para Starmer, o mais difícil vem a seguir: governar bem, sem desiludir os que nele votaram. Disse Robert Caro que o poder é revelador. Quando se está a subir, faz-se tudo para persuadir os outros; quando se conquista o poder, deixa de ser necessário.