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Díaz-Canel: Cuba volta a ter o mesmo dirigente no partido e no país

Miguel Díaz-Canel (60 anos) era presidente de Cuba desde há precisamente três anos, e passa agora a ser também o presidente do Partido Comunista Cubano. Aos 89 anos, Raúl Castro retira-se, mas promete continuar a andar por ali.
  • Foto DR
19 Abril 2021, 17h05

Com a pequena exceção dos primeiros anos a seguir à revolução de 1 de janeiro de 1959, a presidência da república cubana é invariavelmente ocupada pela mesma figura que ocupa o lugar de presidente do Partido Comunista Cubano (ou vice-versa) e o congresso do partido organizado este fim-de-semana serviu para repor essa ‘legalidade’.

Aos 89 anos de idade, Raúl Castro – o mais imberbe de todos os ‘barbudos’ que desceram da Sierra Maestra para tomarem a capital – deixa a presidência do partido nas mesmas mãos em que há precisamente três anos (a 19 de abril de 2018) deixou a presidência do Conselho de Estado: Miguel Díaz-Canel (60 anos), que não teria mais de um ano quando os irmãos Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuengos estragaram a passagem de ano a Fulgencio Baptista – que haveria de se exilar em Portugal – e seus convidados.

Os analistas dizem que Raúl Castro não vai propriamente desaparecer: por ele continuarão a passar as decisões mais importantes do regime, e nada será feito sem a sua concordância – ou seja, Raúl passa a ocupar o lugar que era o do seu irmão mais velho, Fidel, que desde que abandonou todas as funções executivas continuou a monitorizar o regime a partir da reforma. Raúl fará com certeza o mesmo – pelo que não será de esperar que o país embarque em nenhuma ‘aventura’ seja política ou económica.

Nesta frente – e ao cabo de sucessivas crises (uma das piores coincidiu com o fim da União Soviética, que suportava a economia local), Cuba está a viver aquilo que alguns consideram ser a pior crise dos últimos 30 anos. Com a ‘monocultura’ do turismo a impor-se numa economia praticamente sem indústria e com os serviços (fora dos paraísos de sol e praia) a irem pouco além da linha de sobrevivência, a pandemia arrasou as estruturas. Em 2020, o PIB caiu pelo menos 11%.

O congresso debateu a questão dos objetivos para a reforma, mas aparentemente tudo está apostado no mesmo ‘número’: a possibilidade de o turismo regressar ao ativo. Cuba tem bons indicadores em termos sanitários: o número de casos está abaixo dos 100 mil e o número de mortos ultrapassa pouco os 500.

Mas a maior dúvida continua a ser a mesma: o que irá fazer Miguel Díaz-Canel, agora que tem mais poder, em termos do sistema de propriedade, que é o mesmo que dizer: a abertura à iniciativa privada.

Por outro lado, a eleição de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos suscitou grandes esperanças em Cuba, até porque o novo presidente era o vice de Barack Obama, o presidente norte-americano que se deu ao trabalho de se desviar do caminho da sua cadeira num acontecimento público na África do Sul para cumprimentar Raúl Castro. A imagem não podia ser mais significativa, mas Donald Trump, que lhe sucedeu, tinha ideias exatamente ao contrário e rapidamente tratou de isolar Cuba – tendo mesmo chegado ao ponto de impedir que o país conseguisse recorrer ao financiamento externo. O problema é que Biden não tem a América do Sul no topo da agenda, o que quer dizer que Cuba terá que permanecer à espera de melhores dias.

Pior ainda, Juan González, assessor do nov presidente norte-americano para a América Latina no Conselho de Segurança Nacional, já afirmar que “Biden não é Barack Obama na política para com Cuba: o momento político mudou de forma considerável, o espaço político está muito fechado, porque o governo cubano não respondeu de forma alguma” àquilo que Washington esperava.

Ou seja, Miguel Díaz-Canel é acusado de, ao cabo de três anos, não ter feito nada para quebrar o isolamento de Cuba e para encontrar uma forme de os seus concidadãos tratarem da sua sobrevivência.

De qualquer modo, por estes dias muitos analistas têm os olhos postos na pequena ilha. É que, sendo certo que a saúde é um dos pontos fortes do país (há 82 médicos para cada 10 mil habitantes, contra 32 em França e 26 nos Estados Unidos, por exemplo) a investigação tem já em fase de testes em humanos a sua própria vacina contra a Covid-19.

 

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