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Dieselgate: “Se a indústria quiser enganar-nos, vai fazê-lo. Mas vamos sempre descobrir a verdade”

Kathleen Van Brempt, eurodeputada belga e membro da Comissão de Inquérito do Dieselgate, marcou presença no segundo dia da Web Summit. Ao Jornal Económico, falou sobre a transformação do mercado energético europeu.
  • Cristina Bernardo
7 Novembro 2017, 12h38

Kathleen Van Brempt, deputada belga da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu e membro da Comissão de Inquérito ao caso Diselgate, marcou presença no segundo dia da Web Summit.

Ao Jornal Económico, adiantou que os membros da Comissão Europeia estão a trabalhar em múltiplas leis para uma mudança do mercado energético na União Europeia.

“Temos um grande mercado interno, mas não um bom mercado energético. Existem (ainda) 28 mercados energéticos e estão organizados ao nível dos Estados membros, o que é completamente parvo”, disse. “Porquê? Porque primeiro é preciso tornarmo-nos num mercado energético totalmente renovável. É preciso enfrentar os combustíveis fósseis, começando pelo carvão. Haverá sempre algum sítio num mundo onde o sol brilha e onde o vento vai soprar, por isso é um mercado muito eficiente”.

A eurodeputada belga referiu que mais do que nunca é importante cumprir as metas. “O mais importante é a criação de um mercado energético para garantir que possamos atingir os nossos objetivos climáticos e, ao mesmo tempo, criarmos um motor eficaz a nível energético”, refere.

Relativamente ao Dieselgate, um caso que envolve fraudes nas emissões poluentes dos automóveis do grupo Volkswagen – a eurodeputada admitiu que foi bastante chocante, e que nunca pensou que a indústria automóvel, neste caso a marca alemã, “tivesse tanta falta de ética”.

“Eles enganaram os consumidores e o meio ambiente. Há um problema na mentalidade dos setores industriais e não é apenas na indústria automóvel. Estas empresas pensam no lucro a curto prazo, isso é muito mais importante para eles do que um objetivo a longo prazo, mas um objetivo a longo prazo pode combinar boas políticas industriais e respeito pela saúde humana e pelo meio ambiente. Mas eles não pensam assim. Eles usaram o poder, a tecnologia e o conhecimento para enganar, em vez de melhorarem os seus carros”, reconhece a deputada.

Questionada sobre se há alguma possibilidade de algum caso semelhante acontecer, Kathleen admitiu que sim. “Não somos nem fomos capazes de colmatar as falhas como legisladores, e como legisladores é muito difícil estar à frente dos avanços tecnológicos. Se eles [indústria] nos quiserem enganar, podem fazê-lo, mas, no final vamos sempre descobrir a verdade”.

Neste momento, Kathleen adiantou que a Comissão da Indústria, da Investigação e da Energia está a pressionar o Parlamento para a implementação do Programa Zero Emission Vehicle (ZEV), um objetivo que diz ser possível, contrariamente ao que outros deputados mais conservadores pensam. “Não devemos ter medo de matar a indústria com suavidade. Se formos muito ‘suaves’ com a indústria, nós vamos realmente ‘matar’ o setor porque é fundamental que o setor atinga os objetivos climáticos”.

A deputada falou ainda na grande pressão que foi sentida enquanto fazia parte da Comissão de Inquérito do Diselgate, embora não pessoalmente – há um grande lobby para que, por exemplo, programas como o ZEV não sejam aprovados.

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