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“Digital é alavanca para desenvolvimento de Portugal”, diz ACEPI

Mais que uma regulação, o vice-presidente da Associação de Economia Digital sustenta ser “importante que se criem mecanismos que permitam às empresas portuguesas, mas também às europeias, competir com maior resiliência com outros grandes players do mercado”.
ACEPI Pedro Santos
3 Dezembro 2024, 14h13

A resiliência digital tornou-se um tema central, especialmente após a pandemia e num contexto global instável. Na visão da ACEPI, que ações concretas podem as empresas portuguesas adotar para se tornarem mais resilientes a crises?

Uma das medidas mais relevantes que reduzem essa exposição ao risco é a diversificação de atividades. O digital representa uma oportunidade ímpar de trabalhar esta componente, através de uma maior abrangência de mercados diferentes e globais. Desta forma, não apenas serve como estímulo a uma maior competitividade, como permite reduzir o risco de concentração da sua exposição. Em paralelo, iniciativas de base digital podem reforçar substancialmente a eficiência interna das empresas, tornando-as materialmente mais fortes e resilientes.

A formação e qualificação dos recursos humanos em competências digitais é outro aspeto destacado no Digital Report. As empresas portuguesas estão a investir o suficiente na qualificação dos seus colaboradores? Que políticas podem ser implementadas para melhorar a formação digital e atrair talento especializado?

As competências digitais são absolutamente essenciais para gerir e liderar esta transformação digital, pelo que podem e devem ser um pilar de atenção e desenvolvimento, tanto no meio académico como em contexto profissional.

Como tal, é necessário que os currículos escolares tradicionais, desde o ensino básico ao universitário, apostem na formação de competências. Por outro lado, talvez seja necessário credibilizar e valorizar modelos de formação alternativos ao ensino clássico, onde há uma maior aposta no digital. De igual forma, é fundamental que as empresas continuem a apostar numa formação e requalificação contínua, cruciais para o avanço social e intelectual dos seus colaboradores e para o próprio desenvolvimento do país. Ao investirmos numa sociedade mais informada e capacitada, será mais fácil também atrair e fixar talento em Portugal.

Portugal tem mostrado avanços na digitalização dos serviços públicos, mas as empresas continuam a enfrentar desafios na interação com estas plataformas. Como é que a ACEPI está a colaborar com o Governo para simplificar e tornar mais acessíveis os serviços digitais empresariais?

A ACEPI trabalha ativamente em parceria com várias instituições públicas e governamentais, nacionais e internacionais, com o objetivo comum de um país mais digital. Além de desempenharmos um papel ativo no planeamento de iniciativas de desenvolvimento e na preparação de regulamentos, apoiamos diversos negócios de maneira mais direta por meio do Programa Comércio Digital e das Aceleradoras do Comércio Digital.

O relatório mostra que o comércio eletrónico em Portugal tem crescido, mas está abaixo da média europeia. Que medidas podem ser tomadas para incentivar o crescimento do e-commerce no país e permitir que mais empresas entrem neste mercado com sucesso?

O comércio eletrónico tem ainda oportunidades de evolução relevantes. Do lado da oferta, tem de existir uma maior aposta na formação e capacitação das empresas, especialmente das PMEs, para que desenvolvam propostas de valor que integrem o digital e que lhes permitam competir e crescer online, mas também é necessário que estas empresas sejam estimuladas a participar no mercado global.

Eventos como o Portugal Digital Summit, que contribuem para demonstrar um pouco do que melhor se faz no digital e no e-commerce ou até o Dia de Compras na Net contribuem para informar e inspirar outras empresas a adotarem o e-commerce como a essência do seu negócio.  Além disso, iniciativas como o Programa Confio reforçam a credibilidade dos principais sites, funcionando como uma alavanca para aumentar a confiança e fidelização no comércio eletrónico.

Em termos de regulação e legislação, o que falta fazer para garantir que o ambiente empresarial digital seja mais competitivo, seguro e atraente para investimentos, tanto nacionais como internacionais?

É importante que se criem mecanismos que permitam às empresas portuguesas, mas também às europeias, competir com maior resiliência com outros grandes players do mercado. Precisamos de um quadro regulatório que seja mais claro e transparente e de medidas que realmente simplifiquem e reduzam a burocracia digital.  Não é suportável que existam casos de clientes e empresas que são penalizadas por autorizações de condições ou pela obrigatoriedade de emissão de guias de transporte para envio de produtos. Estas condições burocráticas colocam entraves competitivos face a grandes players globais e representam um impacto significativo em termos de custos avultados.  

Incentivos à inovação, como benefícios fiscais para tecnologias emergentes (IA, blockchain, entre outros), também são importantes para atrair capital e estimular o desenvolvimento de soluções inovadoras. Só desta forma é que conseguimos criar um ecossistema digital mais competitivo e acessível, que atraia novos investimentos tanto nacionais como internacionais.

Qual o impacto do atual panorama socioeconómico na transição digital das empresas portuguesas? Que incentivos podem ser criados para ajudar as empresas a lidar com estes desafios enquanto continuam a investir no digital?

Conforme mencionado anteriormente, existem desafios significativos na digitalização das empresas, principalmente das PMEs. No entanto, é simultaneamente uma oportunidade de investir e repensar a transformação digital como uma estratégia importantíssima para que as empresas liderem neste contexto económico e consigam prosperar e tornar-se mais resilientes, quer através de valor gerado, diversificação de produtos, serviços e canais de comunicação ou até mesmo através de processos que otimizem a eficiência operacional.

Que metas realistas podemos estabelecer para os próximos cinco anos, no sentido de tornar o ambiente empresarial português mais digitalmente competitivo a nível europeu? Como vai/pode a ACEPI ajudar a acelerar esta transformação?

O digital é uma importante alavanca para o desenvolvimento e prosperidade de Portugal. Como tal, a nossa meta deve ser liderar e ser um exemplo nas competências digitais, que servirão como catalisador para os demais aspetos relacionados com a digitalização.

O compromisso inegociável da ACEPI é este mesmo: continuar a capacitar, divulgar e formar pessoas e empresas portuguesas para impulsionar o desenvolvimento digital do país. O Portugal Digital Summit, que ocorreu nos dias 23 e 24 de outubro, exemplifica bem essa missão, ao funcionar como uma oportunidade única de partilha de conhecimentos, experiências e melhores práticas, especialmente sobre o potencial da IA ao serviço das organizações e a forma como contribui para melhorar a experiência dos consumidores e promover o crescimento económico dos negócios.

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