[weglot_switcher]

Digitalização das escolas pode alavancar PIB dos países até 20%

Estudo indica que por cada aumento de 10% na conectividade de banda larga de uma escola, o PIB per capita de um país pode crescer cerca de 1,1%. Portugal é 10.º no ranking do DESI. ‘Telecoms’ dizem-se fundamentais para a digitalização das escolas.
27 Junho 2021, 11h00

Os países com um nível reduzido de conectividade de banda larga têm um potencial de crescimento que pode chegar aos 20% do produto interno bruto (PIB), caso desenvolvam uma ligação das suas escolas à internet, concluiu o relatório “Connecting Learners: Narrowing the Educational Divide”, divulgado este mês pelo Economist Intelligence Unit (EIU).

O estudo, que é patrocionado pelo grupo de telecomunicações sueco Ericsson, indica que a força laboral de um país está mais qualificada e tem um maior potencial de criação e desenvolvimento de ideias inovadores quanto maior for o nível de conectividade das escolas à internet. A análise do EIU concluiu que por cada 10% de aumento da conectividade escolar num país, o PIB per capita poderá crescer cerca de 1,1%.

Caso prático: o relatório do EIU defende que se a Nigéria elevar a conectividade das suas escolas à internet, para o nível que se regista na Finlândia, o PIB per capita daquele país da África Ocidental pode crescer “em quase 20%” subindo dos atuais 550 dólares (460,65 euros) para por pessoa até 560 dólares (469, 04 euros).

A conclusão é otimista mas, para alcançar um cenário como o antecipado para a Nigéria, o EIU aconselha a que se seguiam quatro medidas-chave: adotar uma estratégia de parceria “holística público-privada para coordenar os esforços com as partes interessadas, no sentido de ultrapassar as barreiras à conectividade escolar”; investir na construção de infraestruturas “que permitam o acesso à internet como ponto de partida”, procurando bons níveis na relação qualidade de rede e custo; “incorporar a internet e as ferramentas digitais na educação”, formando os docentes para os desafios tecnológicos e digitais; e políticas de cibersegurança, protegende essencialmente nas escolas as crianças no meio online.

Seguindo as orientações determinadas pelo estudo, o EIU assegura que há lugar a um potencial aumento da qualididade educativa de um país, bem como criar-se-á, mais provavelmente, “uma força laboral produtiva que fomente a inovação. Acresce o potencial de criação de trabalho, o desenvolvimento comunitários, bem como “o desenvolvimento e crescimento económico”.

O caso de Portugal
De acordo com o o Índice de Digitalização da Economia e da Sociedade (DESI) relativo a 2020, divulgado há um ano, Portugal ocupa o décimo lugar do ranking, muito atrás dos líderes Finlândia, Suécia, Dinamarca e Holanda, devido às “diferenças significativas” registadas no que toca à utilização de banda larga entre as zonas urbanas e rurais, mas também por causa dos “elevados custos” associados aos serviços de internet e ainda por ser dos piores classificados relativamente à abertura dos dados. Acresce que o sector das tecnologias de informação e comunicação pesa menos de 3% no total da economia portuguesa e que 22% da população portuguesa nunca teve acesso à Internet. No entanto, a percentagem total de agregados familiares portugueses com acesso à internet está acima dos 50% e os serviços da administração pública disponibilizados online ascende a mais de 80%.

Os números demonstram que há um caminho a percorrer, em Portugal. Não é por isso uma coincidência que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) português preveja o investimento de mais de 2,5 mil milhões de euros para a transição, dos quais 559 milhões são para o programa ‘Escola Digital’.

A verba vai permitir comprar 260 mil computadores de uso individual, destinados a alunos e professores, bem como aquisição de 15 mil equipamentos adequados às necessidades administrativas das escolas e ao alargamento de conectividade da internet da Rede Alargada da Educação. Está ainda prevista a criação de mais de mil laboratórios para a Educação Digital e a instalação de equipamentos de projeção em 43 mil salas de aula. Acresce também os 21 milhões de euros para a digitalização da educação na Madeira e os 38 milhões para os Açores.

Além da ‘Escola Digital’, o PRR prevê para a modernização da oferta e das escolas profissionais a alocação de 710 milhões de euros, para a implementação de medidas como o reforço da infraestrutura tecnológica das escolas profissionais e a criação de 365 centros tecnológicos especializados, e a requalificação de instituições.

No Ensino Superior, o PRR vai alocar 122 milhões à iniciativa, cujo período para candidaturas abriu a 21 de junho. Esta iniciativa procurará promover e apoiar iniciativas das instituições com o objetivo de aumentar a graduação superior de jovens em áreas de ciências, tecnologias, engenharias, artes, humanidades e matemática.

O contributo das ‘telecoms’
Mas além das medidas governamentais, qual o contributo das empresas, sobretudo das telecoms, que fornecem a rede de banda larga de internet, para um ensino mais digital em Portugal?

Contactada, a Altice Portugal fez saber que defende que a tecnologia “tem de ser integrada na educação como um meio, para que as escolas disponham de mais ferramentas para explorar metodologias inovadoras”.

“Aliás, esta é uma das áreas prioritárias incluídas no Plano de Recuperação e Resiliência, que prevê a reforma para a educação digital como um dos eixos de desenvolvimento fundamentais para o país. A tecnologia terá por isso, neste campo, uma importância fundamental para o cumprimento dos objetivos e metas definidos, quer em modelo presencial, quer híbrido”, lê-se nas respostas por escrito que o operador enviou ao Jornal Económico (JE).

A empresa acredita que com novas plataformas, as escolas vão poder “aprofundar a diferenciação pedagógica e proporcionar aos alunos um percurso de aprendizagem ao seu ritmo e com maior autonomia”. É que os recursos educativos digitais vão “facilitar o acesso à informação e ao conhecimento de uma forma universal, podendo assegurar a inclusão de cada aluno, e respondendo, de forma mais eficaz, ao contexto ou necessidades especiais de cada um”.

Mas, na ótica da empresa liderada por Alexandre Fonseca, “a integração da tecnologia terá também de valorizar a formação, o trabalho cooperativo e a partilha de práticas pedagógicas no desenvolvimento profissional dos professores e de outros técnicos”. A a empresa defende, por isso, que é “fundamental existir uma preparação e promoção do desenvolvimento de competências que fomentem a utilização eficaz da tecnologia, bem como promovam a literacia digital dos alunos, pais e professores”.

A Escola Remota, a solução Formare, bem como a participação da Altice na iniciativa da RTP ‘Estudo em Casa’ são alguns dos projetos que demonstram o posicionamento da dona da Meo nesta área.

Igualmente contactada, a NOS também afiançou que “as telecomunicações têm um papel fundamental e indispensável na digitalização de toda a sociedade, transversal a todos os sectores”, com a educação a não ser exceção à regra.

A infraestrutura de rede e os serviços de comunicações são hoje indispensáveis para que o ensino chegue a todos os estudantes, uma consciência que a pandemia Covid-19 reforçou em todos nós recentemente, quando as salas de aula se tornaram virtuais”, lê-se nas respostas enviadas por escrito ao JE.

Além disso, para a empresa liderada por Miguel Almeida, a área das telecomunicações contem em si “uma fonte de conhecimento valiosa para a evolução da sociedade”, pelo que “faz igualmente parte do papel das empresas deste sector potenciar a formação e a qualidade formativa nestas áreas, e torná-las atrativas aos jovens”.

Com efeito, a NOS defende que a libertação da quinta geração da rede móvel (5G), assim que acontecer, irá impactar “fortemente” na educação, “através da melhorada qualidade de acesso remoto a aulas e formação, graças às ligações móveis superiores, com vídeo em tempo real e sem falhas”.

“O 5G vai, também, ser facilitador da massificação da utilização de tecnologias como a realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR) aplicadas em contexto educativo”, lê-se. Ou seja, imagine-se como será mais diferenciadora a experiência de realizar uma visita de estudo sem ter de sair da sala de aula, ou como influenciará os alunos uma imersão interativa em cenários remotos, via VR ou AR, em plena sala de aula.

Quanto a projetos, a NOS sublinha também a importância da iniciativa Estudo em Casa, organizada pela o Governo e transmitida pela RTP, para levar a cabo aulas remotas do 1º ao 3º ciclos. Este operador conta que desenvolveu um serviço na sua box, que permite “agregar todas as emissões do programa, organizadas por ano letivo e, em cada ano, por disciplina”, facilitando a revisão das aulas.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.