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Digitalização vai acelerar transição energética

Cristina Portugal, presidente da ERSE, diz que é necessária uma abordagem global do sistema energético. Em Portugal, os principais ‘players’ do setor encaram a transição energética como uma oportunidade.
21 Maio 2020, 07h20

A transição energética está a acelerar e para que Portugal possa fazer esta mudança de paradigma será necessário um esforço conjunto por parte do Estado e dos players privados, no âmbito de uma abordagem transversal a todo o sistema energético. O que levanta grandes desafios organizacionais e regulatórios, disse ao Jornal Económico a presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), Cristina Portugal.

“Os avanços tecnológicos, a digitalização, a descarbonização e a descentralização estão a acelerar essa transição e realçam a necessidade de fazer uma abordagem global do sistema energético, que inclua eletricidade, gás natural, combustíveis, mobilidade elétrica, eficiência energética e novas tecnologias de armazenamento de energia e de flexibilidade”, defendeu Cristina Portugal. A presidente da entidade reguladora acrescentou que “a mudança radical do paradigma, que nos levou da universalidade do acesso ao consumo, garantida a partir de produção centralizada, à universalidade da produção através de fontes renováveis, incluindo o autoconsumo, introduz grandes desafios organizacionais e regulatórios”.

A ERSE tem acompanhado ou tomado iniciativas que “antecipam mudanças e testam a adaptação à realidade que se avizinha”, adiantou Cristina Portugal, dando o exemplo de projetos como a Participação da Procura no Mercado da reserva de regulação, as tarifas dinâmicas, a mobilidade elétrica, os serviços das redes inteligentes de distribuição, o autoconsumo individual ou coletivo e as comunidades de energia renovável.

“O papel do regulador é manter-se como um garante de estabilidade e previsibilidade, para investidores, empresas e consumidores de energia neste contexto de transição energética, para que todos possam beneficiar dela sem gerar exclusão”, frisou a responsável.

Questionada sobre o impacto, no setor das renováveis, da forte descida dos preços do petróleo, Cristina Portugal lembrou que o investimento em energias limpas assenta em decisões a nível europeu, dando a entender que não serão afetadas por quaisquer tendências momentâneas na cotação do crude.

“O investimento em energias renováveis assenta em opções de política energética nacional e europeia, refletidas em metas obrigatórias que continuarão, ao longo dos próximos anos, a moldar o tipo de produção e a sua utilização, e de que são exemplo o Roteiro para a Neutralidade Carbónica ou o Pacto Ecológico Europeu”, disse.

 

Empresas abraçam o desafio
É no setor da energia que se espera o maior contributo na década 2021-2030 no que toca à redução de emissões em 55%, assumindo na transição energética o papel mais determinante no processo de transformação para uma sociedade com um balanço neutro em emissões/captação de gases com efeito de estufa (GEE). O Jornal Económico (JE) ouviu responsáveis de várias empresas, do setor energético e não só, que adiantaram que a transição energética é encarada como uma oportunidade para crescer.

Na Iberdrola, a missão foi adotada há mais de 20 anos. Uma tarefa que já custou à gigante espanhola mais de 100 mil milhões de euros, enquanto fecharam 17 centrais termoelétricas em todo o mundo, que tinham como fonte o fuelóleo e o carvão, as matérias-primas mais poluentes. “Em Portugal, geramos energia com zero emissões”, disse Carlos Sallé, diretor da Política Energética e Mudança Climática da Iberdrola. A empresa está atualmente a desenvolver o projeto hidroelétrico do Tâmega, com 1.158 megawatts (MW) em três centrais.

Com operações também em Espanha, a Galp explica que tem como objetivo alocar 40% do seu investimento em energias renováveis na próxima década. “O caminho passa por promover soluções económica e ambientalmente sustentáveis, reforçando a estratégia de investimento em energias renováveis”, explica a diretora de estratégia da Galp, Inês Santos. “Na Península Ibérica, a capacidade instalada total da Galp deverá atingir os 3,3 GW”, acrescentou.

Já a Endesa tem 6,6 mil milhões de euros prontos para investir em Portugal até 2022, sobretudo na área das energias renováveis, mas também na mobilidade elétrica e nas redes inteligentes, uma das grandes apostas da empresa, que aguarda “com expectativa” pelas decisões do Governo quanto às concessões das redes de distribuição de eletricidade em baixa tensão. Ao JE, Nuno Ribeiro, presidente da Endesa em Portugal, sublinha que a estratégia da empresa passa também pelo encerramento das centrais que usam carvão como fonte primária.

“A transição energética está no centro da estratégia que já estamos a desenvolver e implementar”, explica. “Todas as iniciativas que adotamos significam uma radical mudança técnica, operativa, cultural na empresa e na forma operamos”, finalizou.

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