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Diminuição das taxas de natalidade deve ser ”celebrada”, garante especialista

Os números recentes revelaram que, globalmente, as mulheres têm agora, em média, 2,4 crianças durante a sua vida, uma medida conhecida como Taxa de Fecundidade Total (TFT). No ano passado, a natalidade voltou a descer em Portugal, após subida nos dois anos anteriores.
26 Dezembro 2018, 12h15

Os números recentes revelaram que, globalmente, as mulheres têm agora, em média, 2,4 crianças durante a sua vida, uma medida conhecida como Taxa de Fecundidade Total (TFT). Contudo, esse número é muito maior – no Níger é mais de sete – em quase metade dos países, incluindo Portugal, Reino Unido, Rússia e Japão, caiu para menos de dois.

No ano passado, a natalidade voltou a descer em Portugal, após subida nos dois anos anteriores. Segundo o Ministério da Justiça, em 2017, nasceram pouco mais de 88 mil bebés, menos 2700 do que no ano anterior.

A desacelaração das taxas de fertilidade em todo o mundo deve ser motivo de comemoração, não de alarme, disse a ex-diretora da Royal Institution e especialista em mudança populacional, Sarah  Harper. A especialista de que trabalha na Universidade de Oxford, considera que, em vez de acionar o alarme e o pânico, as atuais taxas de fecundidade total devem ser adotadas como positivas e os países não se devem preocupar se a população não crescer.

Harper apontou que a inteligência artificial (IA), a migração e uma velhice saudável, significavam que os países já não precisam de populações em crescimento para se manterem estáveis. “Essa ideia de que é preciso muita gente para defender o seu país e expandi-lo economicamente, é um pensamento antigo”, disse numa entrevista ao ”The Guardian”.

Ter menos filhos também é, sem dúvida, do ponto de vista ambiental, positivo; Uma pesquisa recente descobriu que ter um filho a menos reduz a pegada de carbono dos pais em 58 toneladas de CO2 por ano.

Limitar o consumo, disse Harper, é crucial, até porque os países da África e Ásia, onde ocorrem os aumentos populacionais mais rápidos, precisariam de uma percentagem maior de recursos, caso esta desigualdade global fosse esbatida.

Por isso, Sarah Harper diz que uma taxa de natalidade total decrescente “é realmente muito boa porque estávamos aterrorizados há 25 anos que a população mundial máxima seria de 24 mil milhões”. A investigadora, que tem três filhos, aponta que as estimativas atuais prevêem que a população chegue a algo entre 10 e 12 mil milhões até ao final do século.

Os declínios na taxa total de fertilidade têm sido vistos repetidas vezes, sempre que as economias nacionais se desenvolvem, a saúde pública melhora e a mortalidade infantil cai. “Isto é um processo natural”, garantiu Harper, acrescentando que os fatores para tais declínios incluíam grandes avanços no planeamento familiar e educação das mulheres (com raparigas a permanecer na escola e a entrar no mercado de trabalho), permitindo que as mulheres atrasassem a gravidez e escolhessem quantas crianças queriam ter.

Mas ainda há uma onda de alarmes entre os países onde as taxas totais de fertilidade caíram abaixo dos chamados níveis de reposição – a figura mágica de 2,1. Harper considera que as teorias de que a queda na taxa de fecundidade total levará os países a ficarem para trás são infundados. “Um número menor de pessoas altamente educadas na economia do conhecimento da Europa superará amplamente o aumento de nossa população porque a automação vai assumir muitas das tarefas”, disse, apontando que a IA e a robótica significam que o trabalho está a afastar-se dos empregos industriais, e esse esforço precisa ser direcionado para a educação dos jovens, não estimulando a procriação.

Portugal apresenta uma das mais baixas taxas de natalidade do mundo, com as mulheres a terem em média 1,03 filhos, de acordo com o Índice de Fecundidade do Instituto Nacional de Estatística (INE), uma taxa abaixo da média europeia, que se situa nos 1,6 filhos e também ela bem abaixo do número desejável dos 2,14 filhos. Este ano uma investigação do Observatório de Natalidade e Envelhecimento indica que aquele índice terá caído para 0,84 filhos por mulher. Neste estudo, quando questionadas sobre quantos filhos desejavam, a média das respostas chegou aos 2,22.

As Estatísticas Demográficas do INE, publicadas em novembro, apontam ainda que Portugal vai baixar da simbólica marca dos 10 milhões de habitantes em 2033, quando no ano passado ainda tinha 10 291 027. As previsões são muito pessimistas e dizem que daqui a 30 anos o país vai ter menos de 5 milhões de pessoas com idade para trabalhar, um cenário que será ainda mais negro em 2080, quando a população em idade ativa será de apenas 4 milhões.

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