Seis anos volvidos da perda do poder, o centro-direita não logrou ainda apresentar-se ao país como alternativa viável de governo, com manifesto dano para o eleitorado que vê, assim, inviabilizada a faculdade democrática de escolher.

A crise dos partidos do centro-direita, que já vai longa, e que se prolongará nos próximos tempos, é menos consequência de circunstâncias exteriores a estes, do que de um problema interno comum a ambos, mais alongado no tempo no caso do CDS.

É certo que PSD e CDS sofreram o impacte de verem chumbado o seu Programa de Governo, que ditou o fim prematuro do Executivo, circunstância que só tem precedente no Governo de iniciativa presidencial chefiado por Nobre da Costa, nos idos de 1978, rara circunstância, portanto, que os deixou sem norte.

Não é menos certo que o abandono por Bruxelas da estratégia de austeridade, que definiu a governação PSD/CDS, pôs em xeque a legitimidade da sua política, com a agravante de os socialistas terem alcançado bons resultados na diminuição do défice e da dívida. Por último, o aparecimento à direita de novos partidos, que alterou a relação de forças no lado destro da política, cristalizado por décadas, causou igualmente um abalo na direita que pode ser já designada de histórica.

Porém, não são estas as causas da longa crise. A sua origem, como referido, é intestina: PSD e CDS estão reféns de facções que se presumem titulares do direito natural de chefiarem os respectivos partidos. Os herdeiros políticos de Passos Coelho e de Paulo Portas mostram-se inconformados com lideranças que não nasçam das suas fileiras e agem como oposição interna, tenaz e sistemática, desferindo, por vezes, golpes mais contundentes nas respectivas direcções do que os perpetrados pela esquerda.

Rui Rio tem sido criticado pelos correligionários passistas desde o congresso que inaugurou a sua presidência e teve que lidar com um grupo parlamentar hostil, o mesmo sucedendo com Francisco Rodrigues dos Santos.  No caso do CDS, o problema é mais antigo, remontando à presidência de Ribeiro e Castro, contestada desde o início pelos portistas, contestação que se saldou na prematura demissão daquele e na saída do partido, em circunstâncias pouco dignas, de uma das personalidades mais válidas da direita portuguesa, Maria José Nogueira Pinto. O presente desafio a Rodrigues dos Santos mais não é que um remake – até no estilo menos polido, não expectável num partido como o CDS – do lastimável filme de 2007.

Independentemente dos seus méritos e deméritos, Rio e Rodrigues dos Santos não tiveram condições para desenvolver um trabalho político válido, pois foram permanentemente postos em causa pelos seus. O ambiente de guerrilha interna é corrosivo para os partidos, gerando a desconfiança do eleitor que não porá o governo da nação nas mãos de quem não consegue ter a casa em ordem.

Assim, de pouco valem os brados contra o socialismo e a hegemonia do PS; enquanto o facciosismo imperar entre os sociais-democratas e os centristas, António Costa continuará a residir no palacete da Rua da Imprensa, do qual só será despejado quando a vontade das bases do PSD e do CDS for respeitada por todos os seus notáveis, agrade-lhes ou não, condição necessária para que se possam propor a governar novamente o país.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.