Chega ao fim do dia a sentir-se frustrado por não ter sido muito produtivo no trabalho? Sente que se dispersou por inúmeras tarefas e passou o dia a apagar fogos, enquanto trabalha em modo remoto e acompanha o Slack, Whatsapp, Teams e todas as conversas online e inúmeros pedidos ou decisões para tomar na hora?

Talvez julgue que o cansaço que sente resulta da própria incapacidade para enfrentar esta voragem de mensagens e tarefas. Mas é hora de pensar duas vezes sobre o que realmente causa este sentimento de frustração, falta de foco e dispersão.

Foi preciso ler uma entrevista com Calvin Newport, cientista e autor do livro “Deep Work”, para que se fizesse finalmente luz na minha cabeça. A culpa não reside em nós, mas no novo ambiente de trabalho em modo digital que desestabiliza o nosso cérebro e o impede de realizar um trabalho de forma mais concentrada e verdadeiramente produtiva.

O trabalho em modo remoto é dominado por um fluxo de trabalho hiperativo coletivo, em que passamos o dia a reagir a uma torrente de mensagens e pedidos feitos pelas mais variadas plataformas que nos roubam toda a atenção, enquanto negligenciamos o trabalho que tem de ser refletido, planeado, organizado, escrito com cuidado.

Se o fizermos ocasionalmente é tolerável, mas se se torna a nossa forma habitual de trabalhar, passa a ser infernal. Quantas vezes, aliás, damos por nós a escolher trabalhar fora de horas de modo a não sermos interrompidos e a poder cumprir os objetivos? Podemos dar-nos ao luxo de dizer aos colegas ou clientes que iremos estar desconectados algumas horas durante o dia, porque temos de nos concentrar em algo sem interrupções? Se o fizermos, o mais provável é perdermos imensas mensagens e sentirmos que estamos atrasados ou a falhar nas respostas.

Como podemos mudar esta espiral que só contribui para um crescente sentimento de insatisfação e falta de foco, e nos impede de realizar um trabalho aprofundado? Como podemos aproveitar o nosso tempo para realizar um trabalho de melhor qualidade?

Não pode ser uma decisão meramente individual. As próprias organizações devem começar a reorganizar o trabalho para que este deixe de ser reativo e passe a ser mais eficiente. Ganharmos o direito de desligar de dezenas de ferramentas digitais de planificação e comunicação pode ser aquilo que precisamos neste mundo povoado de ruído e distração.