A centralização dos direitos televisivos da Liga portuguesa, aprovada em 2021, será aplicada a partir da época 2028/29. Até esse momento, a Liga Portugal tem um trabalho essencial que é apresentar uma proposta concreta ao Governo em meados de 2026. Infelizmente, não temos discutido de forma clara e aberta este processo, pairando até a ideia de que o mesmo se encontra fechado e envolto em segredo. Ora esse clima não ajuda à qualidade da proposta que o futebol português precisa e muito menos ajuda ao ambiente institucional atual. Isto quando estamos a falar num tema central do futebol português nos próximos anos.
As propostas e os modelos têm que se discutidos de forma aberta e é isso que pretendo fazer com este artigo. Por isso, defendo ser imperativo que nessa proposta sejam definidos critérios que estabeleçam a distribuição, mas também um modelo de negociação que respeite o equilíbrio entre clubes e que ao mesmo tempo, naturalmente, valorize quem mais contribui para o espetáculo. Só assim o futebol português poderá evoluir.
O desafio pode à primeira vista parecer difícil, mas não é. Parece-me até bastante simples, basta haver razoabilidade e bom senso dos principais atores, assumindo sempre o imperativo que todos ficarão a ganhar. Infelizmente, o futebol português não vive o melhor ambiente para consensos. As polémicas entre dirigentes, suspeições públicas e conflitos institucionais recentes, fragilizam a confiança e dificultam a construção de um modelo que terá que ser obrigatoriamente coletivo.
Mas apesar disso, este é o momento, não há forma de continuar a adiar, para pensarmos de forma construtiva e com visão de futuro. Por isso a Federação Portuguesa de Futebol e a Liga Portugal, como entidades gerentes do futebol em Portugal, devem assumir a postura institucional, de diálogo, procurando excluir-se a lutas e polémicas que minem a confiança dos clubes nessas instituições. Infelizmente não é a isso que temos assistido. Importa também referir que acompanhei este tema no Parlamento, em reuniões com as instituições, mas desde aí nada foi ainda feito, pelo que entendo que cabe também ao Governo e à Assembleia da República, assumirem um papel central e mediador num tema com esta importância.
Por outro lado, é igualmente importante reconhecer, sem pruridos, o papel central do Benfica na valorização do produto televisivo. O clube lidera em audiências, bilheteira, número de sócios e impacto nacional e internacional. Os dados mostram-nos também que os 17 jogos mais vistos da Liga envolvem o clube da Luz, um peso mediático que tem de ser naturalmente considerado no novo modelo.
No contexto da campanha eleitoral atualmente em curso no Benfica, e tendo em conta a importância crescente das receitas televisivas nos orçamentos dos clubes, o candidato Martim Borges Coutinho Mayer já assumiu uma posição de destaque nesta matéria, defendendo que o Benfica deve liderar esse processo com vista a promover, de forma estruturada e sustentável, todas as equipas e o futebol português como um todo.
Portugal pode – e deve – criar o seu próprio modelo de distribuição de receitas televisivas, mas deve fazê-lo inspirando-se em casos de sucesso que já existem e que, com as devidas adaptações, podem ser aplicáveis à nossa realidade. Falo dos modelos inglês, espanhol e italiano. Sem entrar nos detalhes técnicos de cada país, é evidente que os principais campeonatos europeus adotaram modelos que combinam critérios de igualdade com o mérito desportivo e o impacto mediático.
Assim, entendo que um modelo equilibrado para o nosso país deverá, primeiramente, assegurar uma base comum que garanta estabilidade financeira a todos os clubes. Depois, deve premiar o desempenho desportivo recente e reconhecer o valor de quem atrai audiências e público aos estádios. Por fim, deve ainda incluir incentivos que estimulem a sustentabilidade e o crescimento, uma espécie de análise ESG adaptada ao futebol. Este tipo de abordagem permite reconhecer o mérito e a capacidade de mobilização, ao mesmo tempo que oferece condições mais justas e previsíveis para todos os clubes.
A centralização dos direitos televisivos não pode ser vista como um mecanismo para nivelar por baixo, mas sim como uma oportunidade para elevar a competitividade e a qualidade do futebol português no seu todo. Se este processo for bem conduzido, não tenho dúvidas que permitirá aumentar substancialmente o valor da Liga, como aconteceu em Inglaterra ou Itália, beneficiando grandes e pequenos.
Está nas mãos dos dirigentes desportivos e dos decisores políticos aproveitar esta oportunidade e entregar ao país uma solução que reforce a competitividade, a sustentabilidade e a imagem do futebol português. Não é fácil, mas é possível, bem como absolutamente necessário.