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Diretor da Salesforce em Portugal: “Se as empresas investirem no digital sem pensar no médio e longo prazo a experiência do utilizador é má”

Estudo da tecnológica norte-americana conclui que a grande maioria (89%) dos clientes considera que a maneira como uma empresa age durante uma crise demonstra a confiança que é possível ter nela. “Os nossos planos investimento são pessoas, geração de emprego, que é sempre muito importante para a nossa economia”, diz Fernando Braz ao Jornal Económico.
1 Março 2021, 17h40

A Salesforce está em Portugal, oficialmente como empresa de software, deste o dia 4 de novembro apesar de, antes disso, a tecnológica especializada em software CRM (Customer Relationship Management) estar a acompanha os clientes nacionais através de uma equipa de Madrid. Porém, o ano fiscal começou a 1 de fevereiro e começou assim “o grande desafio local” e ambição de crescer em terras lusas, garantiu, em entrevista ao Jornal Económico (JE), o country leader.

“Os nossos planos investimento são pessoas, geração de emprego, que é sempre muito importante para a nossa economia. Aliás, a dinamização de uma economia em paralelo, porque a Salesforce faz gerar muitos novos empregos que hoje não existem e vão passar a existir. Contamos angariar muitos clientes, similarmente ao que acontece noutros países da Europa”, assegurou Fernando Braz, sem detalhar números.

O diretor da Salesforce Portugal explica que a pandemia veio “baralhar um bocadinho as previsões” de recrutamento, o que faz com que a cotada norte-americana – à semelhança do que acontece por todo o sector tecnológico – tenha de acompanhar “a velocidade que permitir o mercado”. “Mais do que nunca, o mundo do digital veio para ficar, mas na área empresarial é importante o contacto com as pessoas”, sublinha.

Segundo um relatório global elaborado pela Salesforce e enviado ao JE, a pandemia não só alterou essa comunicação interna, entre empresa-trabalhador, como obrigou as marcas a mudarem radicalmente a forma como se relacionam com seus clientes. Mais de metade (52%) dos 15 mil entrevistados inquiridos espera que as ofertas sejam sempre personalizadas, quando em 2019 essa percentagem era de 49%.

“Já nada vai ser como no passado. As pessoas começaram a ter uma relação com o online, vão continuar a comprar no online, porque isso não vai decrescer. O digital é um chapéu muito grande. Há muitas empresas que estão a tomar medidas rápidas para o digital, mas o que é que acontece se as tomarem sem estarem a pensar ou investirem no médio e longo prazo? A experiência do utilizador é má”, explica Fernando Braz.

A quarta edição do “Connected Customer Report” concluiu que a grande maioria (89%) dos clientes considera que a maneira como uma empresa age durante uma crise demonstra a confiança que é possível ter nela, 53% sente uma ligação emocional com as marcas com as quais interagem/compram mais e praticamente todos (99%) acreditam que as empresas precisam de aumentar e melhorar os seus níveis de confiabilidade. A confiança na organização adquire-se, por exemplo, com a comunicação ativa dos seus valores e façam mais para solucionar as disparidades sociais, económicas e ambientais (responsabilidade social).

“Tem de haver uma aposta estruturada, pensada e um investimento no digital para hoje e para amanhã. Há muitas empresas – por falta de disponibilidade financeira, por exemplo – que estão a agir no imediato, mas o nosso trabalho, como especialistas, é partilharmos com elas, com o mercado e os consumidores que, por favor, façam um planeamento”, apela o executivo. “O mundo da cloud é um mundo no qual a confiança é muito importante. Há que ter uma estratégia, uma visão de longo prazo, pilares de empatia, omnical…”, acrescente Fernando Braz.

O gestor da operação da Salesforce no país não põe de parte a hipótese de abertura de um escritório no Porto, para se juntar ao de Lisboa a médio prazo. “A forma como a economia abraçar a Salesforce vai ditar muita coisa ao nível do investimento, mas estamos a falar, no melhor dos cenários, a dois-três anos. Por mais seja um excelente produto e que ajude muito as empresas não é mágico”, salvaguarda Fernando Braz.

A Salesforce publicou os resultados do quarto trimestre na semana passada, tendo superado as estimativas dos analistas – com uma subida homóloga de 20% nas receitas, para 5,82 mil milhões de dólares (cerca de 4,89 mil milhões de euros) – e elevado o guidance para os primeiros meses deste ano e para 2022.

Os lucros trimestrais ajustados foram de 1,04 dólares por ação, tendo também ficado acima dos 0,75 dólares por ação previstos por Wall Street, mas previsões de ganhos para o ano ficaram aquém, nomeadamente devido às implicações da compra da aplicação Slack. É que para o ano, com o impacto desse negócio, a empresa pediu prevê 3,39 a 3,41 dólares por ação de lucros, sendo que o consenso dos especialistas da Refinitiv sinalizavam 3,49 dólares por ação.

Em causa está uma importante operação de M&A, anunciada no final do ano passado: um acordo para aquisição da plataforma de mensagens Slack por 27,7 mil milhões de dólares (aproximadamente 23 mil milhões de euros). “Combinar a Slack com a Salesforce Customer 360 será transformador para os clientes e para o setor. A combinação de ambas empresas será transformadora no novo normal e nas novas formas de trabalhar, permitindo que as empresas cresçam e tenham sucesso no mundo totalmente digital”, explicou a multinacional.

A compra deverá ficar concluída no segundo trimestre e está neste momento a ser analisado pelo departamento anti concorrência do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que tem estado a pedir mais informações sobre a operação.

Na bolsa de Nova Iorque, as ações da Salesforce estão a subir 0,91% para 218,47 dólares.

https://jornaleconomico.pt/noticias/salesforce-abre-escritorio-em-portugal-638148

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