Como diriam os Rádio Macau, há dias assim. O calcanhar de Aquiles de Biden, para os eleitores americanos, é a economia. É aqui que eles estão maciçamente descontentes.
Porém, a economia americana criou 353 mil empregos no mês passado, o dobro do que era esperado, e como se não bastasse foi feita uma revisão à do mês anterior que somou mais 117 mil. A taxa de desemprego está consistentemente abaixo de 4% há mais de dois anos e o crescimento do PIB no quarto trimestre foi de 3,3% anualizados, 2,5% em média anual.
Os salários estão a aumentar 4,5% face a um ano antes e o consumo cresceu 2,8% em 2023. Mas se se perguntar a um americano, ele vai dizer que a sua situação económica está pior, e a ideia está generalizada – segundo uma sondagem divulgada pela Fannie Mae em novembro, é o que 78% dos americanos acha!
Depois, é como disse Arnaldo Jabor: coma porcaria, um milhão de milhões de moscas não podem estar enganadas. E, graças a esta perceção errada, Trump está à frente nas sondagens.
A divergência entre realidade e perceção está também nos experts. Há pouco mais de um ano a opinião corrente era que a economia americana iria entrar em hard landing. Hoje, a Fed não baixa a taxa de juro porque a economia está “aquecida”.
Aliás, as taxas de juro continuam altas porque a inflação ainda não está controlada, quando foi explicado que era um problema meramente transitório. Wall Street bate recordes com as cotações a anteciparem descidas dos juros que o banco central já disse que não vão acontecer tão cedo.
Ou, ainda mais atual, dizem-nos que os ataques dos hutis no Mar Vermelho não são importantes e que o seu efeito na inflação, dada a carga transportada nessa rota, é no máximo 0,4%.
Mas, em janeiro, a carga transportada já estava mais de 60% abaixo do normal – no acidente do Ever Given foi 50%, mas foi temporário; agora o provisório começa a saber a definitivo. É uma rota importante para os produtos chineses, e a Tesla e a Volvo já anunciaram ir parar a produção na Europa por falta de componentes.
Em quem e no quê podemos acreditar? No mundo de hoje não interessa comportarmo-nos a fazer o que está certo, ganha-se mais a antecipar (ou manipular) os erros dos outros, mesmo que o que se faça esteja errado. É como quando passeamos os dois na floresta e de repente temos pela frente um urso: não preciso correr mais que o urso, basta que corra mais que tu.