É um fenómeno já bastante estudado o efeito catalisador que a diversidade tem na inovação: a interseção de perspetivas diversas sobre um mesmo desafio produz com frequência as soluções mais inovadoras e disruptivas. Sendo a inovação, por sua vez, um fator essencial ao sucesso no empreendedorismo, resultam claras as vantagens de um grau de diversidade elevado para a boa saúde de um ecossistema empreendedor.

O ecossistema português de startups tem tido um crescimento notável nos últimos anos, com quatro histórias de sucesso confirmado com o tão almejado estatuto de “unicórnio” (Farfetch, Feedzai, Outsystems e Talkdesk), e algumas outras startups com forte potencial de atingir esse patamar. Têm-se implementado algumas medidas de incentivo ao crescimento do ecossistema, sobretudo no que diz respeito ao acesso a capital de risco e à simplificação do contexto burocrático, que apesar de necessitarem de solidificação, são bem-vindas e contribuirão no curto e médio prazo para potenciar a criação de novos unicórnios.

Há, no entanto, uma vertente que merece maior atenção: os vários estudos que se têm debruçado sobre o nosso ecossistema de startups mostram um nível de diversidade relativamente baixo nalgumas dimensões, o que pode ser limitativo para a sua sustentabilidade a longo prazo. Destaco a dimensão onde essa falta de diversidade é mais gritante: o desequilíbrio entre géneros. As equipas fundadoras das startups nacionais são dominadas de forma esmagadora pelo sexo masculino (94,9%). Por comparação, a nível europeu, a média situa-se nos 82,8%, que sendo ligeiramente mais positivos, tão-pouco devem orgulhar a União Europeia.

Segundo os dados da PORDATA, a população matriculada no ensino académico em 2020 era 45,9% masculina e 54,1% feminina, o que apenas sublinha o desequilíbrio na transição do ensino académico para o mundo do empreendedorismo.

Urge então adotar medidas para corrigir este brutal desequilíbrio, a bem da diversidade do ecossistema, sobretudo porque ele tende a agravar-se: um estudo de 2017 da Universidade de Harvard sobre diversidade e inovação explica-o com o fenómeno da “homofilia”. Ou seja, a natureza humana leva-nos a agrupar em “bolhas” homogéneas, tendendo a atrair (contratar ou financiar) indivíduos à semelhança da nossa própria persona. Uma startup predominantemente masculina tenderá a contratar mais indivíduos do mesmo género, bem como investidores do sexo masculino tenderão a financiar mais fundadores e menos fundadoras.

Uma boa notícia é que a iniciativa privada já deu o pontapé de saída: Portuguese Women in Tech e As Raparigas do Código são dois exemplos de comunidades dedicadas a esta causa. Outra boa notícia é que não faltam bons role models: Daniela Braga (DefinedCrowd), Cristina Fonseca (Talkdesk) e Sofia Pessanha (Unbabel) são exemplos inspiradores de fundadoras que levaram as suas startups a sucessos notáveis.

É então necessário orientar esforços e agir ao nível das próprias políticas educativas, com consciência que os resultados só chegarão a médio longo prazo: outro estudo, este da Universidade de Stanford, sugere que para surtir efeito, os programas de incentivo ao empreendedorismo feminino devem começar logo ao nível do ensino básico.