Está a chegar a primavera e, com ela, as flores, os frutos, os passarinhos a chilrear… e, para alguns supostamente mais materialistas, os dividendos. Nesta altura, por exemplo, quase todas as empresas do nosso índice bolsista principal (PSI-20) já anunciaram a sua proposta de distribuição de dividendos para votação na Assembleia Geral de Acionistas. Enquanto docente de Finanças, muitos são os que me questionam sobre dividendos e investimento em ações, em especial se vale a pena investir em ações que pagam dividendos, se devem comprar ações para receber os dividendos ou mesmo vender ações para evitar os dividendos.

Em todos os casos, depois de elucidar sobre as especificidades técnicas (mas importantes) da tributação e dos custos de transação, a minha resposta gira sempre em redor de três questões económicas fundamentais na perspetiva do investidor: a informação, o risco e a liquidez. Ignoro aqui, propositadamente, a questão complexa dos potenciais conflitos de interesse entre os acionistas que controlam e os restantes acionistas da empresa.

A questão da informação é vital porque o investidor é sempre um “outsider” em termos informativos por mais que domine a lógica económico-financeira da empresa em causa. Regra geral, o dividendo apresenta um conteúdo informativo adicional sobre o desempenho esperado no futuro da empresa em termos de capacidade para gerar dinheiro, que não está necessariamente presente nos resultados atuais da empresa.

A literatura designa este conteúdo informativo dos dividendos como um “sinal” com atributos que o tornam especial, como a visibilidade, a simplicidade e a credibilidade. É, sem dúvida, uma questão sensível para o investidor que procura pistas para afetar o seu capital financeiro, mas que, em contrapartida, muitas vezes coloca questões difíceis de responder, como sejam a veracidade do sinal e a sustentabilidade do dividendo. Em Portugal temos alguns casos muito atuais associados a esta problemática, como sejam os casos CTT e NOS, que pretendem pagar em 2018 um dividendo superior ao resultado do período.

A NOS defende a sustentabilidade do seu dividendo no futuro, enquanto que os CTT parecem estar tentados a alterar a lógica dos dividendos no sentido da sua indexação aos resultados, com a consequente perda da sinalização adicional dos dividendos. Outra questão sensível para o investidor, no que respeita aos dividendos, é o risco. Existe uma clara perceção pelo investidor de que uma componente maior de dividendos reduz o risco do investimento. As ações com um quociente dividendos por ação/cotação relativamente elevado são consideradas mais estáveis e menos sensíveis aos “caprichos” do mercado bolsista.

Na verdade, para estas ações o prazo de recuperação do capital investido pelo investidor é menor, mas fora isso a questão é um pouco ao contrário: é o menor risco em combinação com a capacidade para gerar dinheiro que permite um pagamento sustentado de dividendos, condições estas que estão com maior probabilidade reunidas em empresas relativamente maduras e menos sensíveis ao ciclo económico, como é o caso, em Portugal, da EDP e da REN.

Finalmente, a questão da liquidez conta para o investidor, em especial na atual conjuntura de taxas de juro reduzidas que reduzem a atratividade de produtos substitutos das ações que distribuam dividendos, como sejam as obrigações e fundos de obrigações. Este facto pode ser importante para quem necessita da liquidez, mas não da preocupação de decidir sobre o seu reinvestimento.

Em síntese, dividendos é bem mais do que remuneração efetiva do investidor e influencia a decisão de investimento porque pode incluir informação decisiva, afeta a perceção do risco e condiciona a liquidez do investimento.