Portugal constitui um exemplo paradigmático de uma pequena economia que depende fortemente da conjuntura externa. Quando os ventos internacionais sopram favoravelmente, a economia portuguesa cresce e o défice orçamental e o desemprego diminuem. Quando a economia mundial contrai, Portugal sofre severamente na pele os efeitos da recessão internacional.

Pode parecer estranho para os menos familiarizados com as especificidades da ciência económica, mas os políticos portugueses têm um papel muito limitado, quase insignificante, no desempenho da economia nacional. O que esperar, então, dos governantes portugueses, máxime do seu ministro das Finanças, que, ultimamente, tem sido endeusado pela sua atuação, sendo mesmo apelidado como o Cristiano Ronaldo das Finanças Públicas?

Que saibam que está cientificamente comprovado que não há sol que sempre dure, nem chuva que não se acabe. Pede-se, pois, aos responsáveis das Finanças dos países como Portugal que saibam aproveitar o sol que agora brilha para se prepararem para a chuva que, mais cedo ou mais tarde, aí virá.

Recorrendo à célebre fábula de La Fontaine, espera-se que não adotemos a atitude da cigarra, que vivia saltitando e cantando pelo bosque, sem se preocupar com o futuro, divertindo-se no verão sem cuidar de se preparar para o inverno e que, quando este chegou, começou a tiritar de frio, sem ter o que comer, quase morrendo de frio e de fome. É essencial agir como a formiga que trabalhou no verão para preparar o inverno, poupando na época alta para sobreviver com alguma folga na época baixa.

Ora, os políticos tendem com uma inusitada frequência a ignorar a teoria dos ciclos económicos, parecendo acreditar que, socorrendo-se de uma adaptação da letra da canção do Avante, “o sol brilhará, ininterruptamente, para todos nós”.

De acordo com a teoria dos ciclos económicos, a atividade económica sofre, a longo prazo, flutuações, alternando períodos de crescimento relativamente rápido do produto (recuperação e prosperidade) com períodos de relativa estagnação ou declínio (contração ou recessão).

Independentemente de analisarmos, em detalhe, as diferentes teorias sobre os ciclos económicos, debruçando-nos, por exemplo, sobre os ciclos de Kitchin, de Juglar, de Kuznets ou de Kondratiev, o essencial é que percebamos que ao verão económico se seguirá sempre o inverno e que a este se voltará a seguir um verão. Céu e inferno económicos revesam-se, assim, de tempos em tempos, sendo apenas difícil, senão mesmo impossível, prever a duração de cada um dos ciclos.

O governo Sócrates atuou como a cigarra, acreditando que o verão duraria para sempre, embora os sinais de que a tempestade se apresentava no horizonte fossem mais do que evidentes. Gastou o que tinha e o que não tinha e, quando o vento mudou, não tinha instrumentos para combater a intempérie. Deixou o país de rastos. Seguiu-se-lhe o governo Passos/Portas, que, enfrentando um inverno rigoroso, teve que apelar a todos os portugueses para que apertassem o cinto, passando por dificuldades outrora desconhecidas, a fim de permitir que o sol voltasse no futuro a brilhar.

Quando o tempo melhorou e já se vislumbrava a primavera, veio Costa e tomou conta do barco, beneficiando de uma conjuntura económica internacional muito favorável, que o conduziu ao verão económico. Sem cuidar do futuro, Costa, acolitado por Catarina e Jerónimo, quiserem dar tudo a todos, anunciando publicamente que o sol voltara a brilhar e que não mais conheceríamos a chuva que enfrentámos ainda há poucos anos.

Mas o tempo, como seria de esperar, parece estar, outra vez, a mudar, apresentando-se algumas nuvens no horizonte, fruto da política errática de Trump nos Estados Unidos, da incerteza em torno do Brexit, do arrefecimento da economia chinesa, das dúvidas resultantes da saída anunciada da liderança alemã da chanceler Angela Merkel.

Com o crescimento económico internacional a ser revisto em baixa, os governantes portugueses parecem começar a perceber que, afinal, o sol pode vir, mais rapidamente do que esperariam, a esconder-se atrás de uma nuvem e que a chuva poderá aparecer ao virar da esquina.

Se é certo que nos últimos anos temos vivido em Portugal numa espécie de paraíso económico, com reposição de salários, aumentos sucessivos do salário mínimo nacional, taxa de desemprego em queda, redução dos horários da função pública, diminuição do défice orçamental, embora à custa de um fraquíssimo investimento público, que tem depauperado os serviços públicos, não deixa de ser verdade que a passagem do céu ao inferno ocorre num ápice, especialmente para quem não se preparou para uma mudança climática.

A geringonça funcionou porque governou na bonança. Com a tempestade que, mais cedo ou mais tarde, virá, ela desintegrar-se-á e seremos novamente visitados por uma troika que atua de acordo com uma cartilha não compaginável com os ideais utópicos dos partidos da esquerda radical. É caso para dizer: quem te avisa teu amigo é!