[weglot_switcher]

Do crescimento à imprevisibilidade. Como será o ecossistema tecnológico nacional em 2025?

Fundadores, empresários e líderes dividem-se sobre como será o setor tecnológico português este ano que agora começou. A maioria acredita na continuação do crescimento, mas há quem veja na situação geopolítica alguma imprevisibilidade.
tecnológico
Ian Schneider | Unsplash
22 Janeiro 2025, 18h25

O ecossistema tecnológico português só tem tido espaço para crescer e assim continua a fazê-lo, tendo assumido um ritmo acelerado nos últimos anos. Mesmo com desafios inerentes, que os responsáveis de empresas não negam, há também momentos felizes e o próprio futuro mostra-se risonho.

“Em 2025, o ecossistema nacional continuará a crescer, fruto do desenvolvimento esperado das startups portuguesas e a atração de projetos internacionais. Este crescimento será, no entanto, afetado pelo contexto internacional, moldado pela incerteza económica e política global”, aponta Gil Azevedo, diretor executivo da Unicorn Factory Lisboa, ao Jornal Económico.

Gil Azevedo lembra que a “volatilidade persistente” alimentada pela geopolítica, inflação e taxas de juro, vão continuar a “influenciar o sentimento dos investidores, tornando o processo de acesso a funding mais exigente”. “Apesar da liquidez disponível, os investidores continuarão com uma postura conservadora, procurando métricas sólidas e propostas de valor bem definidas. Para muitas startups, este cenário exigirá ajustes estratégicos, operações mais eficientes desde cedo e um alinhamento claro com as expectativas do mercado global”, sustenta o responsável da Fábrica dos Unicórnios ao JE.

Assim, Gil Azevedo admite acreditar “no potencial das startups portuguesas” para que estas se continuem a destacar em 2025, nomeadamente em Inteligência Artificial, sustentabilidade e saúde. “Portugal já demonstrou capacidade para criar unicórnios e, com o apoio de um ecossistema vibrante e iniciativas focadas no crescimento das startups, o ritmo de expansão deverá manter-se elevado. O país tem a oportunidade de combinar talento local com uma rede cada vez mais conectada a outras geografias, ampliando o impacto das suas soluções. Porém, é essencial que o sistema burocrático português, mas também europeu, avance para apoiar o setor, atuando nos desafios identificados no relatório de Mario Draghi, para que a União Europeia consiga competir com as condições favoráveis à inovação em escala oferecidas por mercados como os EUA e a China”, sustenta.

Também Tomás Penaguião, partner da Bynd VC, acredita que o empreendedorismo nacional e europeu ficará marcado “por uma crescente maturidade”, uma vez que o ecossistema conta com “universidades e centros de investigação de excelência e uma capacidade de atração de talento qualificado de todo o mundo”.

Um dos pontos positivos, na visão do partner do venture capital é existir mais acesso a financiamento no mercado. “Na Europa, o investimento em startups aumentou 10 vezes nos últimos 10 anos comparativamente com a década anterior. O ecossistema português também está bem financiado, sobretudo no que diz respeito ao early-stage, tornando este um período favorável para empreender em Portugal”, assegura Tomás Penaguião ao JE.

A opinião é também partilhada por uma das fundadoras da AGPC, Here Partners e da Redbridge Lisbon. Filipa Pinto de Carvalho admite ao JE que o ecossistema tecnológico apresenta um “grande potencial para continuar a crescer, especialmente devido às fortes ligações internacional que temos vindo a construir”. O território português tem ainda atraído interesse por parte de líder norte-americanos “que veem em Portugal uma oportunidade para criarem parcerias estratégicas e ampliarem o impacto dos seus projetos”.

Em 2025 “vamos poder verificar que a estratégica de criação de verticais ou hubs especializados, como no caso da saúde, gaming, greentech, é uma estratégia vencedora porque permite que o país se destaque em áreas em que temos muito talento e, dessa forma, competir com centros internacionais maiores. Estamos a assistir ao desenvolvimento de áreas como a saúde, biotecnologia, healthtech, medtech, wellness e longevidade, que têm vindo a atrair cada vez mais investidores e parceiros internacionais”, destaca Filipa.

No entanto, há também desafios que a empresária não deixa de referir, “nomeadamente em relação à retenção de talento no setor tecnológico e no acesso a financiamento privado, que não se resolverão de forma imediata”. Portanto, o setor português deve, na visão da fundadora da AGPC, concentrar-se “em criar as condições necessárias para que as empresas, ao escalarem internacionalmente, mantenham laços fortes com o ecossistema local e continuem a gerar valor aqui”.

O general manager do SITIO, empresa de espaços partilhados, tem visto em primeira mão o desenvolvimento e a atração que Portugal tem. Miguel Ricardo diz que as tendências observadas ao longo do próximo ano, principalmente IA, computação quântica, hiperautomação e o metaverso vão continuar na ordem do dia em 2025.

Depois de uma colaboração com a Unicorn Factory e Microsoft num hub de IA, em Alvalade, Miguel Ricardo admite a intenção de desenvolver novos verticais, em Gaia e Guimarães, “alicerçados em algumas das indústrias mais fortes da região”. “Estas iniciativas visam não só fortalecer a economia regional, mas também posicionar Portugal como um hub de inovação tecnológica a nível global”, sublinha o responsável.

O presidente da JUNITEC, a Júnior Empresa do Instituto Superior Técnico, admite que a inovação e o empreendedorismo a nível tecnológico vão continuar a alavancar-se. “Antevemos que o ecossistema mostre grande dinamismo e reflita as tendências emergentes que estão a moldar o mundo, cada vez mais centradas nas novas tecnologias, nas alterações sociais e na ambição de alcançar um
crescimento económico sustentável”, destaca Carlos Rebelo.

O setor tecnológico irá continuar a viver da digitalização e da IA, mas também de machine learning, big data e blockchain, que irão “impulsionar a eficiência operacional e desempenhar um papel fundamental na geração de oportunidades para a inovação”, não deixando de parte a estratégia ESG. Um foco importante que Carlos Rebelo sustenta é “forte contributo” que a academia vai continuar a dar, nomeadamente com a formação de talento e de dotar os futuros profissionais com as ferramentas essenciais.

Nuno Brito Jorge, CEO e cofundador da Goparity, divide-se entre desafios e oportunidades no ecossistema tecnológico. Primeiramente deixa ao JE o alerta de que os “investidores continuarão a valorizar cada vez mais os resultados financeiros e a proximidade ao break-even, o que tornará mais difícil levantar capital, sobretudo em formatos tradicionais”.

Contudo, o desafio em levantar capital pode ser mitigado em algumas áreas “pela existência de diversos mecanismos e fundos com participação pública e incentivos fiscais, como o recém lançado Deep2Tech, os incentivos SIFIDE ou programas do Banco do Fomento”, adianta Nuno Brito Jorge, que sustenta que a área de sustentabilidade vai continuar a atrair interesse de investimentos.

Outra opinião divergente é a de Diogo Fabiana, Chief Innovation Officer e sócio do IDEA Spaces, que admite que 2025 “será um ano imprevisível” e a explicação é por conta de tantas mudanças que vão acontecer, sejam geopolíticas ou socioeconómicas.

“Apesar das incertezas, mantemos uma visão otimista. A confiança do mercado tem vindo a aumentar, acompanhada por uma tendência de crescimento no investimento, que acreditamos impulsionar a economia”, afirma ao JE.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.