(O meu curso fez 20 anos. Vinte anos de amizade, entreajuda e companheirismo, cujos festejos contaram com uma presença especial, nada mais do que o Senhor Presidente da República, dando-nos uma aula de luxo e deixando-me verdadeiramente emocionada. “Oh, Captain, my captain”. Sempre. Para sempre.)

A Web Summit, felizmente, acabou, com uma cotação em alta da camisola de lã usada pelo respectivo organizador e sem que se consiga perceber muito bem quais os exactos benefícios que, para além da hotelaria, se ganham com o investimento de mais de 20 milhões no evento, no mesmo transe que hospitais anunciam encerramentos de urgências.

Depois das frases feitas que são proferidas naquela sede e enquanto meio Portugal discute o caso da sem-abrigo que deu à luz um bebé e o colocou num caixote do lixo e independentemente do concreto lado em que nos colocamos quanto a este assunto, passou despercebido o que sucedeu na Cervejaria Galiza no Porto. De um restaurante reputado, aparentemente após uma burla e posteriores escolhas de “consultores”, seja lá o que isso for, entrou em claro declínio, com salários em atraso e diminuição da qualidade das refeições servidas.

O destino, claro, parecia eminente, com 30 funcionários lançados para o desemprego sem mais. No fundo, é a repetição de uma história que já nos foi muitas vezes contada e pode ser vista, num outro cenário, no filme português “A Fábrica dos Sonhos”.

Contada em traços largos, a receberem o salário em prestações, os trabalhadores aperceberam-se que, nas suas costas, estava a ser retirado todo o acervo com valor do dito restaurante e, nesta parte afastando-se da postura de outros, não tomaram de assalto, como se anunciou, mas ocuparam o seu local de trabalho e impediram a respectiva remoção.

Não sei se pretendiam abrir um restaurante na porta ao lado ou, apenas fazer desaparecer os bens que poderiam satisfazer parte das indemnizações devidas. O que é certo é que esta triste manobra foi evitada e tais pessoas encontram-se, desde então e enquanto tiverem meios, a manter o restaurante a funcionar e as receitas servirão para pagar aos credores, entre os quais eles próprios.

Não me interessa saber de quem foi a culpa de as receitas terem baixado, embora não deixe de fazer notar que, aumentano o turismo, o natural teria sido o movimento inverso. Interessa-me olhar para o futuro e saber que aquelas pessoas verão os seus direitos garantidos.

Neste caso, como em muitos outros, o lado certo da barricada é numa mesa no Galiza. Não apenas por eles, trabalhadores. Nem sequer pelos demais trabalhadores que, um dia, chegam e nada encontram. Por todos nós. Vão, de preferência, com amigos.  Uma casa cheia é o que se pede. E menos não se pode exigir.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.