Na sequência da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas de 2016, muitos analistas prognosticaram a catástrofe. Alguns profetizaram a possibilidade de guerras nucleares e o fim da supremacia global americana. Os derrotados nas eleições não se conformaram e, em conluio com alguma comunicação social amiga, promoveram uma feroz campanha para o desqualificarem.

A lista de acusações é longa: impreparação, instabilidade emocional, imprevisibilidade, espião dos russos, comportamentos éticos pouco aconselháveis, etc. A excentricidade de Trump e os seus comentários desbragados – escritos e verbais – facilitaram a vida aos seus opositores.

Dois anos passados, é tempo de fazer um balanço. Os profetas da desgraça falharam em toda a linha. Os vaticínios pessimistas não se concretizaram. O mundo não está mais inseguro do que antes e no fundamental a política externa americana não sofreu alterações significativas. Apesar de algumas novidades, continuidade é a palavra que melhor a caracteriza. Isso é particularmente evidente quando falamos da Europa e da Ásia.

Em julho de 2018, a Cimeira de Bruxelas reiterou as decisões das Cimeiras de Gales e de Varsóvia. A NATO não só não desistiu do seu escudo antimíssil, como aumentou a sua presença militar nas fronteiras com a Rússia. A pressão para que os europeus paguem mais para a NATO também não é uma novidade. Trump ainda não foi ao ponto de dizer aos aliados que a sua segurança dependia primariamente deles, como lhes disse Nixon em plena Guerra Fria.

Relativamente à Ásia, Trump não reverteu a política do “Pivot to Asia” iniciada pelo seu antecessor. Nalguns casos, houve mesmo desanuviamento, como é o caso da Coreia do Norte (nunca presidentes da Coreia do Norte e dos EUA se tinham alguma vez encontrado). A guerra comercial à China, que tinha de ser desencadeada agora, daqui a uns anos seria tarde, deixa claro que a América não abdicou de um projeto hegemónico.

Posto isto, é bom que os seus opositores políticos percebam que para derrotar Trump têm de ser sérios e apresentar ao povo americano candidatos credíveis com projetos políticos alternativos consistentes. Centrar a oposição a Trump em ataques pessoais tirando da cartola prostitutas e alegadas vítimas de assédio sexual arrivistas, ou nas suas ligações à Rússia (não se conseguiu em dois anos encontrar evidências explícitas que levassem ao impeachment) não parece ser uma estratégia ganhadora.

Trump combate-se com ideias e não com fait divers, utilizando os argumentos certos e não com insinuações que depois não passam disso mesmo, perdendo-se a credibilidade. A verdade é que os seus opositores não têm soluções mobilizadoras nomeadamente para o problema da imigração ilegal, abrindo assim a porta aos populistas. Não basta ser contra o muro.

Trump é um populista habilidoso, reacionário e profundamente perigoso, cujas ideias ameaçam contagiar a Europa e inspirar seguidores. Seria bom que os dirigentes europeus fizessem algum esforço para compreender o fenómeno Trump. Parece não terem ainda percebido que têm à sua porta problemas semelhantes para os quais, como os opositores de Trump, não têm soluções.

A implosão do centro político na Europa é já um indicador de que algo socialmente significativo está a acontecer. Os Trump europeus estão à espreita. Podemos começar por Portugal, onde estão inseridos no sistema e com comunicação social que os apoia.