O século XXI não é para amadores! De facto, essa “regra” é a régua moral padrão há séculos e não é agora, no século XXI, que isso vai mudar. Não sei como é que ainda me surpreendo e onde é que está a surpresa?
Aliás a história oferece lições, o século XVIII foi da França e seu Iluminismo que prometia luz… para os brancos, europeus e alfabetizados. O século XIX, da Inglaterra, que resolveu iluminar o mundo com carvão, máquinas a vapor e exploração. O século XX, aaah, que espetáculo hollywoodiano tivemos com guerras mundiais, bombas atómicas, e onde os EUA assumiram com Óscar a cadeira de diretor do planeta. Agora, no século XXI, a pergunta ecoa. Quem é o próximo protagonista?
O Ocidente não quer largar …enquanto isso, o resto do mundo, nesse detalhe geográfico chamado “o Sul Global”, começa a olhar para o lado, ou melhor a Oriente. A China oferece infraestruturas em troca de influência. A Índia oferece tecnologia em troca de relevância. Até a Rússia reaparece no palco com sua versão peculiar de diplomacia. E as Áfricas? Bem, as Áfricas começam, timidamente, a repensar o seu papel. Finalmente.
O papel das Áfricas na nova geopolítica está a tornar-se cada vez mais central, não porque os outros “permitam”, mas porque os próprios países africanos estão gradualmente a redefinir o seu posicionamento estratégico. Num mundo multipolar, onde antigas hegemonias estão em declínio e novas potências emergem, as Áfricas já não podem ser vistas apenas como palco de disputa, mas como jogadores com peso, recursos, ambições e voz própria. A “corrida verde” do século XXI não se fará sem as Áfricas. Abre-se uma oportunidade de poder negocial desde que usado com inteligência, unidade e com base em interesses próprios.
Infelizmente, a selvajaria continua com guerras, mortes, bombardeios, civis em pedaços. E o Ocidente? Silêncio estratégico, estudado, que só é quebrado quando convém, ruidoso quando interessa. Humanidade selectiva… indignação calibrada por GPS, aí sim, discursos inflamados, resoluções urgentes, hashtags solidários.
E entre uma explosão e outra, lá vem o discurso bonito: “eficiência”, “governança”, “sustentabilidade”. Conceitos nobres desde que não ameacem o statu quo na ordem mundial cuidadosamente empacotada nas prateleiras de Bruxelas, Washington e Londres pois nada pode sair dos eixos definidos séculos atrás: dois pesos e duas medidas.