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Algarve. Medidas anti-seca vão ser aliviadas com mais 50% de água nas barragens

Barragens mais cheias significa que medidas de combate à seca na região vão ser aliviadas. Governo e a região avaliam a 10 de março o novo cenário fruto da melhoria da situação hídrica. Presidente da Agência Portuguesa do Ambiente defende que é nos bons anos que é preciso trabalhar na resiliência hídrica da região. Observatório de Seca do Algarve lançado na próxima semana.
5 Março 2025, 07h00

As barragens em Portugal estão a 81% do seu volume de reserva. Neste momento, das 80 barragens monitorizadas, mais de metade (45 ou 56%) estão com a capacidade acima dos 80%. Já 10 barragens estão com o armazenamento nos 100%.

O presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) destaca a barragem de Castelo do Bode com 88%, “um bom número” numa albufeira muito importante para assegurar o abastecimento de água à grande Lisboa e a mais de três milhões de consumidores.

Já a barragem do Alqueva, a “grande mãe de água do Alentejo”, situa-se nos 85%, disse José Pimenta Machado ao JE.

Analisando o Algarve, uma região que tem sofrido com a seca, Pimenta Machado destaca que as seis albufeiras do Algarve viram as suas reservas disparar mais de 20 pontos percentuais no espaço de um ano para 56%.

Isto significa que estão armazenados 250 hectómetros cúbicos nas barragens algarvias, tendo aumentado em 100hm3 no espaço de um ano, o equivalente a um ano de consumo.

Por ano, o Algarve consome 225hm3, a necessidade anual para abastecer as necessidades das famílias e da agricultura que pesa 56% abaixo da média nacional de 75%, devido ao peso do setor do turismo. Já os campos de golfe consomem 15hm3 por ano. Deste total, 110hm3 tem origem nas albufeiras, com 110hm3 a ter origem nas águas subterrâneas.

O aumento das reservas no espaço de um ano “assegura quase um ano para o consumo urbano e a agricultura. São bons números, tem chovido muito nos últimos dias”.

O Governo vai anunciar a 10 de março o recalibrar das medidas de combate à seca no Algarve em função do aumento da resiliência hídrica da região, sendo de prever que sejam aliviadas.

Questionado sobre quais as novas medidas, o presidente da APA disse que serão anunciadas pela ministra do Ambiente e da Energia Maria da Graça Carvalho na altura devida.

Para os meses de janeiro e fevereiro, o Governo não tem metas definidas para o Algarve, mas entre março e maio deveria ser aplicada uma redução de 15% face ao período homólogo do ano anterior, mas com o evoluir da situação, o cenário muda.

“Mas fica uma mensagem: temos que pensar no que o futuro nos reserva, devido à seca e à escassez de água. É nos anos bons que temos de tomar decisões para tornarmo-nos mais resilientes”, afirmou o presidente da APA, destacando dois projetos do PRR para aumentar a resistência hídrica do Algarve: a solução da tomada de água do Pomarão, um projeto de mais de 100 milhões de euros, e a central dessalinizadora, com um custo superior a 100 milhões.

Pimenta Machado destacou que o Algarve foi apontado recentemente como um “caso exemplar” nas reuniões com a Comissão Europeia e que as autoridades do estado do Califórnia, no oeste dos EUA também reuniram-se com as autoridades nacionais para analisar as medidas tomadas no Algarve para combater a seca consideradas como um “exemplo” para os norte-americanos: entre as medidas de poupança de água, como a reutilização de águas não potáveis para diversos usos. “Não faz sentido usar água potável para regar jardins e campos de golfe”.

“O Algarve fez um trabalho incrível na poupança de água. Vamos lançar na próxima semana o Observatório de Seca do Algarve, uma plataforma eletrónica com toda a informação das albufeiras, sobre a água da chuva”, anunciou José Pimenta Machado.

O responsável destacou também a barragem de Santa Clara na bacia do Mira que atinge os 41%, sendo relevante para garantir água para o perímetro de rega de Odemira.

No lado negativo, destacou duas barragens abaixo de 20%: Monte da Rocha (14%) na bacia do Sado, e a de Arade (18%) no Barlavento Algarvio.

Apenas duas albufeiras estão com o nível abaixo dos 20%, com cinco entre os 41%-50%, duas entre os 51%-60%, e 20 entre os 61%-80%.

No espaço de uma semana, o volume armazenado aumentou em 11 bacias hidrográficas e diminui em três.

Das albufeiras monitorizadas, 56% apresenta disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total, com 10% a registarem disponibilidades inferiores a 40% do volume, segundo os dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Os armazenamentos por bacia hidrográfica apresentam-se superiores às médias históricas por bacia hidrográfica desde 1990/91 no Lima (77% versus média de 71%), no Cávado (77% vs 72%), Vouga (86% vs 81%), Tejo (86% vs 78%), Oeste (75% vs 68%), Alentejo (83% vs 47%), Guadiana (85% vs 75%), Sotavento algarvio (79% vs 73%).

As exceções são as bacias do Ave, Douro, Mondego, Sado, Mira, Arade e Ribeiras do Barlavento.

A bacia com pior registo é a do Barlavento com 28% de reserva face à média de 76% para esta altura do ano. Segue-se o Mira (41% vs 78%) e o Arade (42% vs 64%).

A razão para estas barragens estarem com as reservas em altas deve-se, sem surpresas, a um início do ano mais chuvoso.

A precipitação registada em janeiro foi de 190mm, o segundo registo mais elevado desde 2000, assinalou o INE, com a precipitação mais elevada entre os dias 5 e 8 no norte e centro e nos períodos de 19 a 22 e 24 e 29, com a passagem de superfícies frontais associadas a diversos centros de baixas pressões: Floriane, Garoe, Eowyn, Hermínia e Ivo.

Segundo os dados da APA, esta é a situação das albufeiras do Algarve entre fevereiro de 2024 e fevereiro de 2025.

– Bravura 12% – 28%
– Odelouca 32% – 44%
– Funcho 40% – 51%
– Arade 16% -18%
– Odeleite 42% – 81%
– Beliche 35% – 74%

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