No debate com Pedro Nuno Santos, o líder da AD deixou duas dúvidas no ar que podem causar transtorno no seu trajecto de proposta alternativa de poder.

Pode Luís Montenegro bater o pé que só pensa numa vitória para evitar responder aos jornalistas, mas é importante esclarecer ao que vem. Não explicitar se deixa passar um governo minoritário do PS, fará recordar aos leitores os tempos em que Rui Rio sonhava em ser vice-primeiro-ministro de António Costa num executivo de Bloco Central.

Se Pedro Nuno Santos já confirmou o que faria, parece ao piloto da AD obrigatório desarmar este tabu que só leva a uma cristalização da ideia de que a verdadeira bipolarização do actual momento político é entre o sistema e o anti-sistema incorporado pelo Chega, o partido para onde convergem os desanimados e desalentados com o actual regime, onde ninguém confia totalmente nos principais poderes do Estado.

Há um clarificar de águas urgente para que o PSD comande um projecto de mudança face ao projecto de continuidade do PS. Algo difícil de transparecer, pois o próprio Luís Montenegro não utilizou a palavra mudança uma única vez no decisivo debate com Pedro Nuno Santos.

E houve outro erro enorme e de consequências ainda por apurar no mesmo debate.

Pedro Nuno Santos provocou Montenegro, usando a sombra que o apoquenta: Pedro Passos Coelho. A esse desafio o líder do PSD respondeu usando José Sócrates. Ora, em primeiro lugar, o ex-primeiro-ministro, sendo um activo tóxico, já não é militante do PS. E o seu percurso polémico pós-Governo nada tem a ver com o homem que deu as duas últimas grandes vitórias aos sociais-democratas.

Ainda há poucos meses uma sondagem era esclarecedora: o político mais popular para a direita era Passos Coelho, depois Carlos Moedas e só em terceiro Luís Montenegro.

Já caiu muito mal a actual AD não o ter convidado para a Convenção ocorrida no Estoril e não basta um qualquer publicitário, em nome da proferida “reconciliação com pensionistas e reformados”, o ter tentado ocultar e meter debaixo do tapete.

Pedro Passos Coelho pode ter muitos defeitos, mas há um que não tem: falta de carácter. E se há coisa que um projecto de mudança necessita como de pão para a boca é carácter. Luís Montenegro tem de desfazer rapidamente estes dois tabus.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.