O dólar iniciou uma forte tendência de alta em 6 de janeiro de 2021. Curiosamente, ou talvez não, esse foi também o dia da invasão do Capitólio enquanto se fazia a ratificação da vitória de Joe Biden nas presidenciais. O Euro/Dólar transacionava acima de 1,23 dólares e foi valorizando de forma consistente até ao outono deste ano.
Em 2022, o câmbio cotou durante várias semanas abaixo da paridade, atingindo um mínimo de 0,9534 dólares em 28 de setembro. Em termos acumulados, o dólar valorizou 29,5% em relação ao euro e 28,7% face a um cabaz de moedas, normalmente designado de “Dollar Index”.
Como quase sempre acontece, a evolução do dólar foi multifatorial. Ainda assim, destacaram-se como justificações, numa primeira fase, o crescimento mais rápido da economia dos EUA e, mais tarde, a subida das taxas de juro pela Reserva Federal (Fed), a guerra e a aversão ao risco.
Algumas métricas mostram que o dólar se tornou “caro” em termos fundamentais, desviando-se daquilo que muito subjetivamente se poderá caracterizar por valor justo (“fair value”).
Em princípio, o máximo de ciclo do dólar já terá sido feito no final de setembro. O mercado tem vindo a descontar que o ciclo de subidas de taxa de juro pela Fed estará perto do final, devido à possibilidade de uma recessão, com as previsões macroeconómicas a apontarem para taxas de crescimento similares às da Europa, desmentindo a tese de que o Velho Continente seria muito mais afetado pela guerra na Ucrânia.
A sobreavaliação da moeda e o regresso da preocupação com os “défices gémeos” excessivos também deverá prejudicar o dólar.
Parece ser pouco plausível uma queda “a pique”, mas é provável que o Euro/Dólar transacione em 2023 consistentemente acima da paridade e com a zona de 1,10-1,15 dólares como objetivo. Em termos médios, o câmbio poderá ficar pelos 1,07-1,08 dólares em 2023, o que compararia com os cerca de 1,0530 dólares deste ano. Ou seja, se em termos médios os valores não se alterarão muito, já a tendência deverá ser bem diferente.