No final do ano passado, era bastante difícil encontrar analistas cuja previsão não fosse de um dólar fraco em 2021. E, de facto, a moeda estado-unidense começou o ano em queda, tendo o Eur/Usd atingido $1,2350, níveis que não eram vistos há 33 meses. Mas, desde esse dia 6 de janeiro, o dólar inverteu e tem ganho terreno de forma consistente, estando agora a valorizar em 2021 quase 4% face ao euro e mais de 7% em relação ao iene. O Dollar Index está em máximos de cinco meses.

A queda do dólar em 2020 tinha sido justificada pela descida dos juros para perto de 0%. A moeda beneficia tradicionalmente de juros mais altos do que os do euro, vantagem que se desvaneceu na altura, mas que agora parece estar a regressar. É verdade que a Fed não deu perspetivas de subida da taxa de juro de referência e as maturidades mais curtas continuam sem alterações.

No entanto, os rendimentos dos T-Bonds a 10 anos subiram de perto de 0,50% em agosto, para os 1,75% atuais, captando o interesse dos investidores. Na zona euro, que em dezembro beneficiava de uma aparente maior coesão europeia, a amplitude da subida dos juros foi bem menor, o que decorre do constrangedor atraso na vacinação.

Um dólar mais forte é, porventura, bem-vindo pela exportadora zona euro, mas poderá causar dificuldades ao processo de recuperação económica global. As economias emergentes aumentaram o seu endividamento em dólares (e não só) para fazer face à pandemia e terão mais dificuldades em honrar os seus compromissos com juros e dólar em alta.

Esta semana, Kristalina Georgieva, pelo FMI, e António Guterres, pelas Nações Unidas, sentiram a necessidade de deixar o aviso: “preparem-se para uma crise da dívida nas economias emergentes e em desenvolvimento”.