[weglot_switcher]

Exportações portuguesas: dos produtos gourmet ao software de gestão de dados

IntellCorp, My Data Manager, Gourmet Da Vila ou Gold Nutrition são algumas das empresas portuguesas que apostam forte numa estratégia de internacionalização para vender os seus produtos em vários mercados mundiais.
1 Dezembro 2019, 13h05

Ruben Ribeiro é o CEO da IntellCorp, uma empresa que fornece serviços no âmbito das informações – intelligence e segurança de bens e ativos para empresas e indivíduos. “Nós temos um grupo bastante grande de colaboradores com um alcance geográfico extenso. Utilizamos esses colaboradores que vêm da vertente diplomática, segurança, defesa, ou académicos”, explica ao Jornal Económico. A IntellCorp foi uma das muitas empresas presentes no Portugal Exportador 2019, o maior evento nacional dedicado à internacionalização empresarial e que decorreu nesta quarta-feira no Centro de Congressos de Lisboa. No caso da IntellCorp, estes colaboradores prestam aos clientes um serviço de análise, pesquisa económica, política ou social, bem como segurança. “Mesmo em teatro de guerra ou em conflitos bastantes intensos”, acrescenta Ruben Ribeiro.

Os principais clientes desta companhia, cujo projeto começou em 2014, são internacionais ( americanos, asiáticos e africanos fazem parte da lista). “Verificamos se os investimentos que vão fazer são adequados à conjuntura que se vive e é feita uma análise de risco. Vamos dar ao cliente um apoio à decisão”, acrescenta. Sobre os próximos passos dedicados à internacionalização, o fundador quer apostar nos países da CPLP. “Vamos agora iniciar representação exclusiva para a CPLP de tudo o que é tecnologias de ponta. Não só no que se aplica à vertente civil, como à segurança aérea, terrestre ou marítima”.

O certame do Portugal Exportador colocou no mesmo espaço empresas, consultoras e empresários que pretendem iniciar o seu processo de internacionalização. Esta é uma iniciativa da Fundação AIP, em parceria com a AICEP Portugal Global e o Novo Banco. “Criámos esta parceria e, no fundo, o que visa é assegurar fazer parte do ecossistema que leva ao desenvolvimento das exportações. Quando iniciámos esta parceria as exportações representavam 27% do PIB. Atualmente, representam 44%. Estamos muito satisfeitos pela evolução que se verificou e pela parcela que diz respeito ao Novo Banco no quadro do Portugal Exportador”, disse António Ramalho, presidente do Novo Banco, ao Jornal Económico.

“O grande desafio de hoje é como exportar no comércio digital”, afirmou também Augusto Santos Silva, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros – a sessão de abertura contou ainda com a presença de Jorge Rocha de Matos, presidente da Fundação AIP, António Silva, administrador da AICEP Portugal Global e Eurico Brilhante Dias, secretário de Estado da Internacionalização.

Além dos já habituais workshops e cafés temáticos, a edição deste ano do Portugal Exportador conta com uma nova iniciativa: o espaço Meet the Leaders, onde empresários com negócios de sucesso nos mercados espanhol, angolano e alemão se irão reunir com as empresas que queiram aconselhar-se quanto às melhores estratégias de abordagem destes mercados.

As atenções estiveram viradas para três áreas de atividade: agroalimentar, e-commerce e metalomecânica, setores em que os portugueses se destacam ou estão em franco crescimento. As exportações no setor agroalimentar aumentaram 56% de 2010 para 2018, sendo o fator de diversificação dos países de destino fundamental para estes resultados.

Outro dos focos passa pelas exportações no setor da metalomecânica que, em 2018, atingiram um recorde ao aumentarem 11,3%, para 18.334 milhões de euros, face a igual período transato, segundo a Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal.

Este ano, o Portugal Exportador (PE) voltou a destacar alguns mercados de maior potencial e os escolhidos foram Angola, Espanha e Alemanha, sobre os quais decorreram workshops relacionados com a economia, oportunidades e estratégias de negócio para entrar de forma segura e sustentada nesses mercados. A escolha teve por base a facilidade de acesso, balança comercial, número de empresas portuguesas a exportar para lá e o histórico de boas relações comerciais.

A participação da Representação da Comissão Europeia em Portugal na 14.ª Edição do Portugal Exportador realçou também a importância da política comercial, nomeadamente dos acordos comerciais para dinamizar o setor exportador. A UE tem hoje 41 acordos comerciais com 72 países – a maior rede comercial a nível mundial, oferecendo às empresas europeias oportunidades e um ambiente de trabalho equitativo e previsível em todos os continentes. Os acordos comerciais são também um meio de defender e promover os valores europeus. Cada novo acordo comercial da UE inclui compromissos juridicamente vinculativos em matéria de direitos dos trabalhadores e do ambiente. Estes acordos têm mecanismos de verificação do seu efetivo cumprimento.

Do Gourmet aos produtos desportivos
Daniel Rocha é o fundador da Gourmet Da Vila, plataforma online que pretende ser o maior marketplace de produtos portugueses. “A maior ambição é ser a sua loja preferida quando procura os melhores produtos portugueses de grande qualidade. A nossa ideia tem na sua origem e ideologia a seleção de produtos de todas as vilas portuguesas para dar a conhecer o que de bom fazemos, procuramos o artesanato, os produtos manufaturados onde são realmente produzidos para fazer chegar aos nossos clientes esses produtos no conforto das suas casas evitando viagens e tempo na pesquisa”, afirmou o fundador ao Jornal Económico. Nesta plataforma estão mais de seis mil produtos divididos por garrafeira, mercearia, cabazes, club corporate e eventos.

A Gourmet Da Vila está também a apostar na área da distribuição, sendo que 60% da faturação registada chega dos mercados internacionais enquanto o restante valor é do mercado português. “Os clientes encontram-nos online e entre três a cinco dias têm o produto em casa. Queremos crescer em alguns mercados onde achamos que os produtos portugueses são diferenciadores, sobretudo nos mercados do Norte da Europa”, acrescenta Daniel Rocha, dando os exemplos do vinho e do azeite.

Aproximar-se do mercado da CPLP é outro dos objetivos desta empresa. “Temos clientes desses mercados. Compram em Portugal os produtos e fazem o envio. São pessoas que têm uma ligação muito forte à comunidade portuguesa e pode ser interessante”, confessa o empresário.

Custódio César é o fundador da marca Gold Nutrition, uma marca dedicada à nutrição desportiva e alimentação saudável. A empresa nasceu em 2003 e surgiu no mercado em 2004. “Na altura percebemos que existiam no mercado apenas marcas norte-americanas e que toda a sua comunicação era direcionada para o nicho do body building e do culturismo. Decidimos desenvolver uma linha de nutrição desportiva para atletas de fitness, de fundo, de outdoor, e para quem não era atleta mas queria ficar melhor com o seu corpo”, lembra ao Jornal Económico.
Entre os principais mercados exportadores da Gold Nutrition encontram-se Espanha, Roménia, Itália, República Checa ou Eslovénia. A companhia portuguesa conta também com distribuidores na Holanda, Lituânia e Irlanda. Tem ainda contactos no Médio Oriente e estão presentes em Angola. “O setor nacional representa mais de 50% do nosso mercado. Durante o próximo ano deverá estar equilibrado. O ano passado a nossa faturação consolidada foi de sete milhões de euros”, sublinha Custódio César.

Software para RGPD
My Data Manager é um software criado em Portugal e que foi pensado para as empresas que querem estar em conformidade com o Regulamento Geral da Proteção de Dados (RGPD) – sobretudo as que ainda não estão. O programa pretende tornar mais simples a gestão de dados pessoais nas empresas.

Samuel Portugal e Mário Peixinho são dois dos fundadores. “Temos este software que é disponibilizado às empresas e aos Data Protection Officer (DPO) – oficial de proteção de dados em português – não só em Portugal mas também no estrangeiro”, contam ao Jornal Económico.

A empresa está atualmente a preparar a entrada no mercado brasileiro, mas já está presente no Reino Unido e nos países bálticos.

“Fizemos uma parceria com uma sociedade de advogados local que nos ajudou a exportar para Lituânia, Estónia e Letónia”, reforçam.

Em Portugal trabalham para entidades como a Mota-Engil e a Universidade Católica. “O que nós pretendemos foi tirar a papelada da vida das empresas e tentar automatizar tudo com um software intuitivo. Ambos já éramos empresários e, a partir do momento em que identificámos que o RGPD ia ser uma oportunidade de negócio, pensámos em como podíamos aproveitar a oportunidade”.

Em relação à Marca Portugal, os empresários não têm dúvidas. “É mais fácil exportar agora do que há quatro ou cinco anos. O mercado português não é só o mercado dos sapatos, é também de desenvolvimento tecnológico”, concluem.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.